Escolhido na semana passada como vice de Jilmar Tatto (PT) para concorrer à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) vê sua chapa num futuro segundo turno. Para ele, o adversário pode ser o candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), ou o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP).
Para chegar lá, porém, sua chapa deverá disputar votos com Guilherme Boulos (PSOL). Mas ele diz que não haverá ataques do PT em direção ao oponente, que também busca se consolidar como a alternativa da esquerda.
“Não vai ser nós contra o Boulos. Esquece isso”, disse, em entrevista ao UOL na última sexta-feira (18), antes da divulgação da primeira pesquisa do Ibope com base no real cenário da disputa eleitoral. Divulgada ontem, ela aponta Tatto com 1% das intenções de votos contra 8% de Boulos.
Zarattini, que está em seu quarto mandato como deputado federal, também avalia que Márcio França (PSB) não deve ter força para se manter na disputa.
UOL – O objetivo inicial do partido era ter na vice uma mulher, negra e da periferia. E o senhor não tem esses requisitos. A escolha do senhor não tira a representatividade que era desejada para a chapa?
Carlos Zarattini – Acredito que não, isso seria mais do ponto de vista simbólico, de mostrar essa diversidade. Infelizmente, não conseguimos. O PT tinha uma opção de ter o nome de uma mulher, uma negra de preferência, para expressar a diversidade no nosso partido. Mas as opções que a gente tinha tiveram vários problemas diferenciados, de não desincompatibilizar. E aí veio uma segunda opção, que era alguém mais da política, que já tivesse uma representatividade eleitoral.
Lógico que eu não serei uma representação das mulheres negras, mas, no entanto, a gente tem também uma representação política na cidade. Fui vereador, deputado estadual, quatro vezes federal. Enfim, sou uma pessoa que tem ligações muito fortes com a cidade.
Conversando com lideranças municipais dos outros partidos, Tatto é visto como uma carta fora do baralho. O PT vai ser coadjuvante na disputa?
De forma nenhuma. Temos todas as condições de ir para o segundo turno. Pela nossa experiência aqui na administração da cidade, pelo conhecimento e as relações que a gente tem na cidade. O PT tem o que mostrar. E tem uma atuação política nacional e local muito grande. Vejo o contrário: muito difícil a gente não estar no segundo turno.
A candidatura de Guilherme Boulos tem se mostrado mais competitiva neste momento. Alguns membros do PT, inclusive, têm anunciado apoio a Boulos. Esse movimento enfraquece a chapa do senhor?
Não. Acho assim: o Boulos tem esse aspecto da renovação. É um nome novo, que tem esse respaldo do movimento social. Um nome que tem um peso político. O fato de o Jilmar ser menos conhecido. Ele nunca foi candidato a presidente da República. O Boulos foi. Então, evidentemente, em um primeiro momento as pessoas podem se impressionar e dizer que o Jilmar não tem chance, ou não vai ser protagonista.
Acho que é um equívoco. É desconhecer a força que o PT tem na cidade de São Paulo, o enraizamento, a força que tem a nossa militância na vida social da cidade. Por tudo isso que temos acumulado, o nome do Jilmar vai crescer rapidamente, no meu ponto de vista.
Boulos vive com o recall de 2018? Não é uma intenção de voto pensando na prefeitura?
Pesa a favor dele ter sido candidato a presidente. Para as pessoas que acompanharam a eleição de 2018… Aliás, antes disso. No momento que se deu o golpe contra a Dilma [Rousseff], [houve] o papel do Boulos contra o golpe. Depois disso, o Boulos [se posicionou] contra a prisão do [ex-presidente] Lula. Aquilo foi muito importante e impressionou muito bem aos petistas.
Eu mesmo tenho uma simpatia grande pelo Boulos. Mas eu acho que nós temos um partido que tem mais condição de disputar essa eleição do que o PSOL.
O senhor falou que aposta em Tatto no segundo turno. Contra quem?
O governo do Bruno [Covas] é um governo que carece de ter uma marca, uma ideia do que ele representou para a cidade, porque representou muito pouco, mas que não foi capaz de desenvolver qualquer política inovadora para a cidade. Então os problemas continuam os mesmos na cidade de São Paulo.
O [Celso] Russomanno, se for mesmo candidato com apoio do Bolsonaro, vai ter que responder por aquilo que o Bolsonaro está fazendo em nível nacional.
Então, não sei dizer hoje qual do dois —que parecem mais fortes— vai disputar o segundo turno, mas eu acho que não serão os dois. Será um dos dois contra nós.
O senhor não considera Márcio França como uma possibilidade para o segundo turno?
O França a gente respeita muito. Uma pessoa que tem experiência política, administrativa, foi prefeito de São Vicente. O problema que ele tem é que o PSB em São Paulo praticamente não existe. Não tem militância, um enraizamento na cidade.
Acho que ele pode arrancar bem no começo, mas não sei se ele consegue manter essa posição. Ele tem que ser muito bom de discurso, de posicionamento político porque, vamos dizer assim, o embasamento dele não é bom, não é uma coisa que tenha condição de impulsioná-lo por muito tempo.
E a pedra no sapato seria o Boulos? Vocês disputam o mesmo eleitorado.
Olha, se alguém acha que vamos disputar com o Boulos, atacar o Boulos de alguma maneira, perca a esperança.
Nós vamos mostrar nossa capacidade administrativa, nossa capacidade de formulação política, e vamos disputar no terreno das ideias, de quem apresenta as melhores ideias para o povo de São Paulo. E de quem se posiciona de forma mais clara, com mais nitidez, em relação ao governo federal, a e ao governo estadual e municipal, dos tucanos.
Aí que vai se dar a disputa. Não vai ser nós contra o Boulos. Esquece isso.
Mas os votos que vocês precisam hoje estariam com o Boulos.
Minha avaliação é que a capital tem 30% dos votos no campo da esquerda. Então vai existir uma disputa por esses votos.
Mas o que eu quero dizer é o seguinte: nós não vamos disputar contra o Boulos, vamos disputar quem é melhor na disputa contra o Bolsonaro e os tucanos. Nós vamos disputar com a direita, com esses governos que não entendem a dificuldade do povo de São Paulo, do Brasil, que governam para quem está no poder. Nós não vamos disputar com o Boulos.
A deputada federal Luiza Erundina, vice de Boulos, diz ver o PSOL como “a força da esquerda” neste momento. Ela tem razão?
Não é verdade. O PT, se a gente pensar do ponto de vista nacional, não é só porque é o maior partido, mas porque é o partido que mais se destaca com propostas, ideias, formulações em relação ao país. Então, o PT fala com o Brasil. E aqui em São Paulo também, a gente dialoga com a cidade. Nós não temos uma política pequena.
Vamos ficar ainda por um tempo como o principal partido da esquerda brasileira. Não quero aqui dizer que o PSOL não possa vir a ter esse papel. Acho que o PSOL tem uma importância muito grande de renovação da esquerda, mas acho que, pelo me.
Quando o senhor fala em “política pequena” refere-se ao PSOL?
Acho que às vezes o PSOL não tem um discurso mais amplo. Não amplo no sentido de atingir várias camadas sociais, mas amplo no sentido de pensar os problemas como um todo, compreender os impactos que têm cada tipo de política pública. Acho que o PT tem essa compreensão melhor do que são as grandes políticas públicas para o país e também para a cidade.
É um erro do PT não ter o ex-prefeito Fernando Haddad como candidato?
O Haddad não quis ser candidato. Poderia ter sido, haveria unanimidade. Ele achou que já havia disputado duas vezes, que era o momento de renovar. É uma decisão legítima dele. Lógico que seria um candidato que iniciaria a campanha mais forte do que Jilmar, porque o Jilmar é menos conhecido.
O fato de o ex-presidente Lula ter tido influência na escolha do vice mostra que o partido depende sempre da chancela dele?
Acho que nenhum partido reclama de ter um Pelé no time. Acho que o Lula tem muita experiência política. Não é pouca coisa, não. Então ele ajuda. Quando ajuda a destravar, a colocar o ovo em pé, ajuda muito. Estava com aquele problema [de não achar mulher para vice]. Algumas pessoas já haviam insistido: vamos para uma solução política. Na hora que o ex-presidente deu essa opinião, isso ajudou a destravar.
Quem é o pai do Bilhete Único? O senhor ou Jilmar Tatto?
A gente vinha debatendo essa ideia de Bilhete Único desde 1992. Em 1995, consegui aprovar na Câmara Municipal, aí o [ex-prefeito Paulo] Maluf vetou, mas mantivemos isso no programa de governo de todas as eleições. Essa ideia se consolidou dentro do PT.
Quando a Marta me convidou para ser secretário [de Transportes, em 2001], ela quis que o projeto fosse implementado. Colocamos o projeto em pé no período em que fiquei na secretaria [Zarattini deixou o cargo no final de 2002]. E o Jilmar, depois que entrou na secretaria, ele teve a sapiência de consolidar o processo e de contornar uma série de problemas que ainda existiam, de arranjos com empresários de ônibus. Ele teve muita capacidade na implementação. Trabalhamos todos juntos nessa ideia.
Uma “paternidade compartilhada”?
Precisaria fazer um DNA aí, mas não foi feito até hoje (risos).
Por Nathan Lopes, UOL – São Paulo.
Matéria publicada originalmente no site UOL Notícias e replicada neste canal.