Tragédia humanitária mantém Brasil sob holofotes da mídia estrangeira

Imprensa internacional repercute marca de 2 milhões de infectados e mais de 76 mil mortos e relembra sabotagem de Bolsonaro no combate à pandemia. “Apesar da rápida disseminação do vírus, Bolsonaro, um ex-capitão do exército de extrema direita, pressionou os governos locais a suspenderem as restrições ao bloqueio”, descreve a Reuters. “Sem orientação do governo federal, os estados implementaram medidas antivírus como bem entenderam, com políticas que variavam e muitas vezes se contradiziam”, destaca Bloomberg

18 jul 2020, 13:23 Tempo de leitura: 5 minutos, 15 segundos
Tragédia humanitária mantém Brasil sob holofotes da mídia estrangeira

Imprensa internacional repercute marca de 2 milhões de infectados e mais de 76 mil mortos e relembra sabotagem de Bolsonaro no combate à pandemia. “Apesar da rápida disseminação do vírus, Bolsonaro, um ex-capitão do exército de extrema direita, pressionou os governos locais a suspenderem as restrições ao bloqueio”, descreve a Reuters. “Sem orientação do governo federal, os estados implementaram medidas antivírus como bem entenderam, com políticas que variavam e muitas vezes se contradiziam”, destaca Bloomberg

Foto: Ricardo Moraes

Foram necessários somente 27 dias para o Brasil dobrar o número de infecções por Covid-19 registradas em três meses (1 milhão) e bater os 2 milhões de casos, relata reportagem da agência Reuters. Nesta sexta-feira, 17 de julho, o país contabiliza 76.997 mortes e 2.021.834 contaminações, mantendo o ritmo de 40 mil novos casos diários, em média. O marco simbólico expôs ainda mais a tragédia brasileira aos holofotes da imprensa internacional, que continua a repercutir a grave situação de descontrole sanitário causado pelo presidente Jair Bolsonaro.

“Apesar da rápida disseminação do vírus, [o presidente Jair] Bolsonaro, um ex-capitão do exército de extrema direita, pressionou os governos locais a suspenderem as restrições ao bloqueio”, descreve reportagem da Reuters. A agência destaca que a péssima condução do governo brasileiro fez a popularidade de Bolsonaro “afundar”.

A Reuters também compara a situação brasileira com a de outro grande epicentro da doença, os EUA. “Nos dois países, o contágio explodiu à medida que o vírus ganha força em novas áreas distantes das maiores cidades”, aponta a agência. “Uma colcha de retalhos de respostas estaduais e municipais tem se mantido mal no Brasil, na ausência de uma política firmemente coordenada por parte do governo federal”, observa a reportagem.

Os EUA bateram na quinta-feira um novo recorde de novos casos de coronavírus, com 77 mil infecções registradas. A Flórida é o novo epicentro da doença no país e detém, sozinho, o espantoso número de 315 mil infectados e 4,7 mil mortes. O estado paga o preço da opção de não restringir a circulação de pessoas nem impor uso de máscaras em lugares fechados, quadro semelhante ao de algumas capitais brasileiras.

Revolta

A Reuters, cuja matéria é replicada em dezenas de veículos, como o New York Times, colheu depoimentos da população em capitais como o Rio de Janeiro. O sentimento de revolta deu o tom. “O governo não se mexeu apesar da crise da saúde. Eles pensaram mais em dinheiro do que em pessoas”, afirmou Rafael Reis à reportagem. Ele perdeu a mãe de 71 anos por causa do vírus. “Eles zombaram da doença. Eles não acreditaram nela , queriam todo mundo de volta nas ruas”.

A imprensa estrangeira também destaca o fato de que, mesmo tendo atingido um platô de casos e mortes, a estabilidade não significa que a pandemia esteja sob controle. Tanto o número de novas infecções quanto o de óbitos continua em patamar muito elevado. “Os números seguem um alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) que o surto no Brasil não deve atingir o pico até agosto”, observa a Bloomberg.

Segundo a agência, autoridades do Ministério da Saúde confirmaram há uma semana que mais de 96% dos municípios têm casos e reconheceram que o país ainda está longe de reduzir a propagação da doença. “Sem orientação do governo federal, os estados implementaram medidas antivírus como bem entenderam, com políticas que variavam e muitas vezes se contradiziam”, destaca a agência. A resposta errada, pontua a Bloomberg, “significa que a pandemia se comporta de modo diferente em todo o país, o que dificulta a compreensão de quando começará a recuar”.

Oportunidade

Nesta sexta-feira (17), o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, disse que o platô alcançado pelo país representa uma oportunidade para que seja possível uma redução no número de contágios da doença. Ele reconheceu, no entanto, que o Brasil continua no centro da luta.

“O que ainda não está acontecendo é que a doença não mudou e não está descendo a montanha. Nessa perspectiva, os números se estabilizaram, mas o que eles não começaram a cair de forma sistemática no dia a dia”, observou Ryan, durante entrevista coletiva, em Genebra, na Suíça. “Então o Brasil ainda está muito no meio dessa luta”, disse ele.

Ryan chamou a atenção para a taxa de reprodução do vírus – o número de pessoas que cada pessoa doente pode contaminar – no país. O chamado fator “R” foi reduzido e está entre 0,5 e 1,5, abaixo de duas semanas atrás. “Existe uma oportunidade depois que esses números se estabilizarem para se reduzir a transmissão”, afirmou o diretor. “Mas será necessária uma ação coordenada e muito sustentada para que isso ocorra”, alertou.

Infectados

Ele advertiu ainda para o alto número de trabalhadores de saúde infectados pela doença no país, um índice de 11% de todas as infecções que reflete o quadro mundial do surto. “A pandemia da Covid-19 nos mostrou que a saúde não é um item de luxo, ela é a base da estabilidade social, econômica e política”, ressaltou diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na mesma coletiva.

O diretor confirmou que a OMS pesquisa o universo de contaminações  no setor de saúde, que já atingiu mais de um milhão de médicos e enfermeiras pelo mundo. “Todos nós devemos uma enorme dívida aos trabalhadores da saúde – não apenas porque eles cuidaram dos doentes. Mas porque eles arriscaram suas próprias vidas no cumprimento do dever”, disse Ghebreyesus.

Da Redaçãocom agências internacionais

Matéria publicada no Site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.