Carta aberta à população paulistana no 2º turno
A cidade de São Paulo vive um debate eleitoral emblemático e crucial neste 2º turno como há tempos não se via. São dois projetos em disputa apresentados aos quase 9 milhões de eleitores: a cidade-empresa versus a cidade-cidadã. Uma eleição não representa uma revolução, mas pode significar uma evolução decisiva, em particular tratando-se da maior cidade do continente americano.
A metrópole paulistana tem sido governada para atender principalmente a um terço da sua população, a cidade visível. Faz-se necessário inverter prioridades, de modo que a cidade invisível, habitada por dois terços da população, ganhe prioridade e protagonismo. Ambas, cidade visível e cidade invisível, têm problemas graves e belezas imensas, tristezas pungentes e alegrias contagiantes. Não se trata de igualá-las, mas de construir pontes entre elas. Ambas devem ser cuidadas e colocadas em diálogo para que o todo seja sustentável. Por isso, é preciso que todos possam cuidar das emergências sociais, sanitárias, econômicas, culturais e ambientais.
Para tanto, a Conferência São Paulo Sua, no 2º turno, apoia e recomenda o voto na candidatura Guilherme Boulos e Luiza Erundina, não sem desconhecer as dificuldades a serem enfrentadas. Essas certamente poderão ser melhor equacionadas com o pacto de cidadãos e governantes pelo bem viver.
A Conferência São Paulo Sua, iniciativa da sociedade civil lançada em junho de 2019, trabalhou na construção de um Pacto pela Cidade, que engloba a vida, o trabalho e a democracia. Mais de 1.000 lideranças e especialistas se reuniram ao longo desse período para elaborar esta Agenda Mínima, necessária e imprescindível, para uma cidade do bem viver (https://bit.ly/3fBPDPg). Diversos encontros, seminários, plenárias e documentos foram feitos, contando com uma diversidade de colaborações de amplo e plural espectro político e social organizado. Constituíram-se seis campos temáticos: políticas sociais; políticas urbanas; sustentabilidade ambiental; direitos humanos e diversidade; desenvolvimento econômico; e democracia e participação. Resultou em cerca de 150 propostas orientadas pelo conceito do bem viver e por critérios éticos, estéticos, técnicos, econômicos e de governança.
Durante a campanha para o primeiro turno das eleições municipais, a Agenda Mínima foi entregue a todas as 13 candidaturas à Prefeitura, assim como os programas de todas as candidaturas foram acompanhados pela Conferência São Paulo Sua. Trabalhou-se na procura dos consensos e convergências em torno dos principais temas em duas lives, ouvindo-se os candidatos a prefeitos e a vice. Chegado o segundo turno, a Conferência São Paulo Sua organizou dois grupos de trabalho para cotejar as propostas da Agenda Mínima com os programas das duas candidaturas: Guilherme Boulos-Luiza Erundina e Bruno Covas-Ricardo Nunes.
A Agenda Mínima para uma Cidade do Bem Viver tem sentido que vai além do eleitoral, pois trata de modo permanente da cidadania participativa, em que um dos momentos é a eleição dos governantes. Sejam quem forem os vencedores, a cidadania pelo bem viver continua ativa, acompanhando, debatendo e propondo a cidade, baseada no lema da Conferência São Paulo Sua: “a cidade é sua, cuide dela”. Sabe-se que essa ideia pode ser facilitada ou dificultada pelos governantes.
No eixo VIDA da Agenda Mínima para uma Cidade do Bem Viver é que se encontra a maior convergência com o programa da candidatura Boulos-Erundina, com grande alinhamento em diversos pontos que dizem respeito a saúde, educação, cultura, sustentabilidade ambiental, direitos humanos e diversidade. Infelizmente, a candidatura Covas-Nunes tem como espinha dorsal do seu programa o privilégio ao grande capital e não à vida das pessoas e dos diversos ecossistemas da cidade. É preciso articular a melhor qualidade de vida, garantindo amplamente os direitos sociais e humanos, combinados vigorosamente com o respeito à natureza e aos animais.
No eixo TRABALHO, há convergências com as duas candidaturas, mas elas são mais fortes e explícitas com a candidatura Boulos-Erundina, na medida em que organizar a inclusão produtiva das maiorias e investir na base da sociedade são os seus pontos fortes nessa rica metrópole, marcada sofregamente pelas desigualdades e pela péssima distribuição dos recursos produtivos, prejudicando os trabalhadores. Já a candidatura Covas-Nunes privilegia claramente a privatização dos espaços públicos e o lucro empresarial, com pouca atenção às inovações estruturantes e emergenciais voltadas à criação de oportunidades para os trabalhadores desempregados ou subempregados e os jovens ingressantes no mercado de trabalho.
As propostas da Agenda Mínima no eixo DEMOCRACIA convergem plenamente com o programa da candidatura Boulos-Erundina, que claramente define a participação social como modo preponderante de governar, enquanto a candidatura Covas-Nunes é menos inovadora nos modos de gestão política da cidade.
As forças democráticas terão mais condições de lutar contra as desigualdades e por uma melhor qualidade de vida, com mais amplas oportunidades para todos, com a vitória da chapa Boulos-Erundina. E isto é um desafio nesta reta final para cada um e para todos que acreditam que a cidade pode dar um salto no campo da democracia e do bem viver.
A Conferência São Paulo Sua conclui de forma virtuosa seu primeiro ciclo de existência, dedicado a repensar e fazer São Paulo avançar. Esta cidade neste novo tempo do mundo urge reconquistar e reescrever o seu futuro, afastando-se o mais possível dos perigos das catástrofes social e ambiental. A Cidade é Sua. Cuide Dela.
Conferência São Paulo Sua
São Paulo, 25 de novembro de 2020.
Acesse a Agenda Mínima para uma Cidade do Bem Viver: https://bit.ly/3fBPDPg
Carta feita pela Conferência São Paulo Sua e replicada neste canal.