Desde que Jair Bolsonaro tomou posse, os brasileiros comem o pão que o diabo amassou – quando tem pão. Após quase quatro anos de incúria, desmonte de políticas públicas e insultos à população, só agora ele resolve posar de santo para tentar se reeleger. Santo do pau oco, que desvia verba de programas sociais para um “pacote de bondades” válido apenas neste período eleitoral e para o “orçamento secreto”, que pode ser “o maior esquema de corrupção do planeta Terra”, como disse a senadora Simone Tebet.
Nesta quinta-feira (6), o futuro ex-presidente garantiu que o confisco de parte do orçamento do Ministério da Educação, publicado na sexta-feira passada (30), era “apenas contingenciamento que todos os governos fizeram”. Segundo ele, a medida não foi tomada “por maldade, vontade própria”, mas para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, que seu desgoverno cumpre apenas quando é conveniente. Acontece que a maldade, mesmo camuflada, é a principal marca de seu desgoverno.
Pelo menos 17 universidades federais correm risco de parar devido ao confisco. E os institutos da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica não poderão mais custear transporte, alimentação, internet e bolsas para os alunos pobres.
Sob o pretenso “defensor da família brasileira”, a Educação Infantil perdeu 96% do orçamento para 2023. O Brasil já soma 1.216 obras do setor paradas. Na maioria, creches públicas, onde as matrículas sofreram a primeira redução em 20 anos. Mas Bolsonaro jura que é “pelo bem do povo”.
Agora, para tentar reverter a altíssima rejeição entre as eleitoras – em particular, as de baixa renda – ele promete pagar, em 2023, uma 13ª parcela do Auxílio Brasil. “É promessa tão inédita quanto estúpida, porque carrega a evidência do erro de um programa elaborado somente para aumentar o capital político-eleitoral de um líder que jamais se preocupou com as mulheres. Nem com os pobres, os negros, os indígenas”, criticou a jornalista Flávia Oliveira em sua coluna no jornal O Globo.
Segundo a jornalista, Bolsonaro descuidou das brasileiras, “mas implementou políticas de transferência de renda que, certamente, beneficiaram mais os homens, caso dos auxílios para caminhoneiros e taxistas”. Até a redução do ICMS sobre combustíveis – em tese positiva, ao baratear a gasolina e o etanol para a minoria que possui automóveis – tem a faceta maldosa de retirar receitas dos estados que iriam para Saúde e Educação.
Promessas lançadas ao vento
Bolsonaro é ainda useiro e vezeiro em requentar promessas nunca cumpridas, como o reajuste da tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). Num país com dez milhões de desempregados e recordes consecutivos de informalidade, ele promete pagamento extra de R$ 200 “para quem começar a trabalhar” entre beneficiários do Auxílio Brasil, apesar de nunca ter implementado o Auxílio Inclusão Produtiva Urbana, previsto na medida provisória (MP) que criou o benefício.
O chefe do Executivo também não tem vergonha em anunciar como grande novidade ações existentes há anos. É o caso do programa da Caixa para renegociação de dívidas de inadimplentes, que ele adiantou com estardalhaço em ato no Palácio da Alvorada, embora seu programa de governo não contenha qualquer medida destinada às famílias endividadas. Ao contrário do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para bancar o “santo”, Bolsonaro manda às favas os escrúpulos, que nunca teve, e se apropria de propostas alheias – mas a semente da maldade permanece. Como o auxílio gás, fruto do projeto de lei (PL) 1347/21, assinado pelo deputado federal Carlos Zarattini (PT/SP) em conjunto com a bancada do PT. Aprovado pelo Congresso Nacional em outubro de 2021, o benefício foi implementado a contragosto pelo Executivo, que excluiu mais de 10 milhões de famílias – as mesmas que Bolsonaro jura defender. Mente tanto que nem sente.
Da Redação
Publicado no site Partido dos Trabalhadores