País registrou 1.341 óbitos em 24 horas e mais de 43,2 mil novos casos de coronavírus, somando um total de 1,9 milhão de infectados e quase 75 mil mortos, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa. Média móvel de 1.056 mortes diárias indica que esta foi a semana mais letal desde o início da pandemia. Brasil e EUA somam 5,5 milhões de contágios e juntos mantém 40% dos casos registrados no planeta
O Brasil deve atingir o patamar de 2 milhões de pessoas contaminadas oficialmente por coronavírus nesta quinta-feira (16), confirmando a liderança absoluta do país no quadro de descontrole da pandemia na América Latina. Até o momento, foram assinaladas 74.445 mortes e 1.939.167 casos, dos quais 43,2 mil novas contaminações em 24 horas e 1.341 óbitos, de acordo com balanço do consórcio de veículos de imprensa. Também foi divulgado um dado alarmante: a alta no número de óbitos diários elevou a média móvel para 1.056 vítimas fatais, indicando que o país teve a semana mais letal desde o início da crise sanitária.
A leitura dos dados da situação da pandemia no mundo aponta para um quadro de gravidade preocupante. Brasil e EUA, os dois epicentros da doença, estão passando por uma nova onda de contaminações, o que levou alguns estados a recuarem da decisão de reabertura do comércio. As duas nações estão longe de apresentar uma estabilidade ou controle de novas infecções que justifique uma retomada das atividades, algo decidido prematuramente, segundo especialistas. Responsáveis por nada menos do que 5,5 milhões de contágios do planeta, os dois países mantiveram a média de 40% dos casos mundiais registrados desde junho.
Na Califórnia, serviços como academias, shoppings, salões de cabeleireiros e templos foram suspensos em 30 condados do estado americano, inclusive em Los Angeles, a segunda maior cidade americana. O estado já perdeu 7 mil vidas e ultrapassou 327 mil casos desde o início da pandemia. No Brasil, a Região Sul também passa por uma explosão de casos. Em um mês, teve crescimento de 312% no número de casos e 283% em óbitos, segundo levantamento da ‘Veja’, baseado na média móvel.
Flexibilização perigosa
“Nessa região, as medidas de distanciamento foram instituídas precocemente. Mas devido ao baixo número de casos e óbitos, a flexibilização logo aconteceu e a economia foi retomada, sem muitas regras de distanciamento”, aponta Julio Croda, epidemiologista da Fiocruz.“O aumento do contato entre as pessoas contribuiu para sua disseminação, principalmente em um período que há maior risco de contágio”, diz.
O quadro em Santa Catarina é extremamente preocupante. O estado anotou 2.235 novos casos em 24 horas e já passou da marca de 46 mil infecções por Covid-19. Blumenau, uma das primeiras cidades a reabrir shopping centers, agora vive o drama de ter mais de 84% dos leitos dos hospitais ocupados. A imprensa local relata que a prefeitura prepara uma“operação de guerra”. Como parte da ampliação de medidas restritivas, ônibus passaram a ter circulação proibida na cidade. Em Florianópolis, o sistema de saúde entrou em colapso. A taxa de ocupação dos leitos de UTI’s ultrapassou 90%.
Um por cento da população infectada
Na iminência de atingir o patamar de ter 1% da população oficialmente infectada entre as nações com mais de 10 milhões de habitantes, o Brasil adentra um terreno ainda mais nebuloso quanto ao futuro, na medida em que mantém um baixíssimo índice de aplicação de testes em massa. Traçando um paralelo entre países nessa condição, caso de Chile e EUA, o doutor em Microbiologia Átila Iamarino chamou a atenção para a importância da testagem. “O Chile chegou em 1,6% [da população contaminada], mas comparando testes feitos fica bem claro o que o Brasil não está vendo”, afirmou o especialista, pelo Twitter.
Ele refere-se ao fato de que Chile e EUA testaram muito mais do que o Brasil. A falta de testes indica um alto índice de subnotificações. Ou seja, o número de casos confirmados é muito inferior ao número real de contaminações. Até o fim de junho, para cada mil pessoas, EUA, Chile e Brasil testaram 97,5, 58,06 e 6,9 pessoas, respectivamente.
Longe da imunidade de rebanho
Os defensores da tese da chamada imunidade de rebanho, como o negacionista Jair Bolsonaro, já viram dias melhores. De acordo com a teoria, o vírus perderia força após contaminar cerca de 70% da população, uma vez que essas pessoas atingiriam a imunidade. “Não há nenhuma evidência de que a imunidade de rebanho possa ter sido atingida em qualquer parte do Brasil”, afirma Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças contagiosas da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Os estudos mais recentes mostram que os anticorpos necessários para caracterizar imunidade de rebanho, aqueles que podem realmente destruir a doença, começam a desaparecer depois de três meses que a pessoa teve a infecção”, disse o diretor da Opas à ‘ BBC Brasil’. Em outras palavras, uma pessoa infectada poderia desenvolver um novo quadro infeccioso da doença.
De acordo com as pesquisas, os cientistas estariam próximos de descobrir que o vírus do Covid-19 pode ter comportamento semelhante ao da gripe, o que obrigaria a população a procurar meios de se imunizar de tempos em tempos, caso uma vacina estivesse disponível.
Máscaras continuam como solução
Até que uma vacina tenha eficácia comprovada e fique disponível no mercado, a solução mais prática e segura continua sendo o distanciamento social e o uso de máscaras. No EUA, o diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Robert Redfield, voltou a ressaltar a importância do uso do equipamento de proteção. Lá, o uso de máscaras virou alvo de uma disputa polarizada no debate público.
“Eu acredito que se conseguirmos que todos usem máscaras agora, podemos controlar isso em quatro, seis, oito semanas”, disse Redfield, em entrevista ao Journal of the American Medical Association. O diretor do CDC também disse que usar máscara era uma questão de saúde pública e que ele estava “triste” pela politização da medida.
Redfield se disse satisfeito por ver o presidente Donald Trump utilizando máscara em público. “Eu estou feliz em ver o presidente e o vice-presidente usarem máscaras. Claramente, na situação deles, eles poderiam justificar com facilidade que não precisam… mas precisamos que eles dêem o exemplo”, afirmou. O CDC informou que a maioria dos norte-americanos passou a utilizar o equipamento de proteção depois que governo americano recomendou a medida, em abril.
Seria uma boa hora para o presidente Jair Bolsonaro, fã brasileiro de Trump, sensibilizar-se e aderir à recomendação do uso, sobretudo depois de anunciar que foi contaminado pela doença.
Da Redação, com agências
Matéria publicada originalmente no site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.