Padre Di Lascio promove campanha de oração pela paz mundial

Religioso convoca população a rezar um pai-nosso por dia e acender uma vela pelo fim dos conflitos armados

8 set 2025, 13:36 Tempo de leitura: 6 minutos, 13 segundos
Padre Di Lascio promove campanha de oração pela paz mundial

Foto: Alessandro Torres

Os conflitos armados em andamento no mundo, como a guerra da Rússia contra a Ucrânia e as investidas de Israel contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza, fizeram com que o padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio criasse uma campanha de oração ininterrupta pelo fim dos conflitos que assolam a humanidade. Trata-se do “Círio do Pai-Nosso”, que convoca as pessoas a acenderem uma vela e a rezar o “pai-nosso”. O objetivo é inspirar a sociedade, criando uma corrente de oração que, além da fé, reforce um posicionamento humano pelo fim das atrocidades. 

A proposta é que cada pessoa dedique alguns minutos diários para rezar o Pai-Nosso e acender uma vela em prol da paz mundial. Qualquer pessoa, sem distinção de idade, raça, sexo, crença religiosa, posição social, é chamada e conclamada a fazer parte pelo bem da vida em todas as dimensões. “As pessoas que têm acesso à tecnologia da informação e rede midiática devem procurar divulgar esta ideia, acolher e repassar através do celular, blog, redes sociais, e-mail e quaisquer outros meios de comunicação.

Para Di Lascio, a oração é uma poderosa ferramenta que pode ser utilizada na construção de uma sociedade não violenta. Através dela é possível promover a conscientização de muitas pessoas. Por meio da oração, elas podem se posicionar de forma clara contra a postura bélica de governos e pessoas que promovem a destruição. O padre salientou que os conflitos geram consequências negativas, como a fome, proliferação de doenças e até mesmo separação de famílias, que são forçadas a se deslocar em tentativas desesperadas de sobrevivência. 

De acordo com o último relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), no final de abril de 2025, havia 122,1 milhões de pessoas deslocadas à força por perseguição, guerra e violência. O número não para de aumentar: são dez anos consecutivos de alta. O triste ranking é liderado pelo Sudão, com 14,3 milhões de refugiados, seguido pela Síria, 13,5 milhões, Afeganistão, 10,3 milhões, e Ucrânia, com 8,8 milhões de pessoas deslocadas em um ano. “Eu gostaria de ir para os campos e acampamentos de refugiados, interceder pelas crianças, mas não consigo, portanto, o Círio é uma forma de lutarmos em prol dessas pessoas que sofrem.”

Até o final de 2024, o número total de crianças forçadas a se deslocar por conflitos e violência chegou a 48,8 milhões. São mais de 1,7 milhão de crianças palestinas registradas como refugiadas após terem que deixar a Faixa de Gaza. “São muitas crianças que estão nos campos de refugiados, sem pai nem mãe, que perderam tudo e estão destroçadas psicologicamente”, acrescentou Di Lascio. Para ele, são gerações de crianças que não vão se recuperar tão facilmente das traumáticas experiências vividas. “Essa realidade me fez orar, colocar meu joelho no chão e lembrar do Círio, pois cada um tem a responsabilidade de fazer alguma coisa pela paz.”

“Hoje, se estima que mais de trinta países estejam em situação de conflitos e guerras. É incompreensível, em pleno século XXI, a humanidade e o planeta estarem diante das barbáries do flagelo, das guerras e dos conflitos armados que vêm assolando países e povos em várias partes do mundo e sacrificando a ‘Obra da Criação’”, lamentou. Por isso, para Di Lascio, o momento é decisivo para a humanidade, principalmente pelas reuniões e encontros promovidos entre os governos dos Estados Unidos, europeus, russo e ucraniano, que pretendem chegar a um acordo pelo fim da guerra na Ucrânia. 

Di Lascio apontou a indústria bélica armamentista, os movimentos de grandes economias para a dominação do petróleo e o narcotráfico como os principais agentes de dominação econômica que, invariavelmente, são causadores de grandes e profundos conflitos mundiais. “Como é que vamos enfrentar os senhores da guerra, que preferem gastar um milhão de dólares por dia para colocar um avião em operação e não gastar o mesmo com alimentação e moradia?”, perguntou o padre.  

O movimento de Di Lascio coincide com um pedido feito pelo próprio Papa Leão XIV. Na última quarta-feira, 20, ele pediu que os fiéis religiosos fizessem um dia de jejum e orações pela paz no Oriente Médio, na Ucrânia e em outras áreas do mundo devastadas por guerras. O ato ocorreu ontem, 22. No pedido, Leão suplicou ao Senhor para que os povos consigam encontrar o caminho da paz. Di Lascio lembrou que a postura do atual papa é marcada pela tentativa de conciliação e mediação de conflitos. “Ele colocou a própria Cidade do Vaticano à disposição para negociações de paz”, destacou. Por atitudes como essa, o sacerdote campineiro reforçou que as pessoas não podem ficar indiferentes às dores do mundo. “Não podemos esquecer que entre as vítimas das guerras estão as nossas crianças, nosso futuro.”


O CÍRIO

O Círio na liturgia cristã é o símbolo de Jesus Ressuscitado, aquele que venceu o pecado e a morte. A chama acesa simboliza a presença viva de Jesus no meio de nós. Citando passagens com Jesus Cristo na Bíblia, Di Lascio exemplifica: “Onde dois ou mais estiverem reunidos, ou caminhando, eu estarei convosco”. “Quem me segue não andará nas trevas, mas era a luz da vida”.

O Círio do Pai-Nosso é uma inspiração do Espírito Santo, um movimento de fé que vai ganhando força através de uma rede de solidariedade entre pessoas de boa vontade, que tocadas pelo desejo ardente de fazer algo pela causa da paz mundial, imediatamente se comprometem a reservar um tempo do seu dia ou noite para entrar em sintonia com uma grande aliança de oração pela paz mundial e pela vida saudável do Planeta Terra.

A escolha por rezar o pai-nosso, segundo Di Lascio, se dá por ser uma oração universal, compreendida por várias religiões e diversas regiões do mundo, portanto, se torna um símbolo de aproximação entre diferentes orientações religiosas. “O pai nosso é rezado pelo judeu, espírita, pai de santo, padre, pastor… é uma unidade de fé rezada por todos.” Dessa forma, o objetivo do Círio é criar um grupo de pessoas que acredita e tenha fé em prol da resolução dos conflitos. “A guerra é treva e pecado, a luz do Círio é amor e reintegração.” 

SOBRE O PADRE

O padre é sacerdote católico da Arquidiocese Metropolitana de Campinas. É cooperador pastoral e assessor eclesiástico da Pastoral Carcerária. Criador do Cerco da Misericórdia, da Cruz da Misericórdia. Mentor dos movimentos: Palmas para a Paz e Vamos Florir nossos Jardins. Seus projetos têm como principais focos melhorar a condição de vida em bairros de baixa renda e de maior vulnerabilidade social. Além disso, ele nomeou a Praça Arautos da Paz e o Trevo Dom Luciano Mendes de Almeida na cidade de Campinas.  

Matéria publicada originalmente no site Correio Popular e republicada aqui