O “pessoal do agro” sob suspeita: quem financiou a tentativa de golpe?

Empresários do setor teriam patrocinado planos extremistas após as eleições de 2022, incluindo os assassinatos de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes

17 dez 2024, 15:30 Tempo de leitura: 3 minutos, 19 segundos
O “pessoal do agro” sob suspeita: quem financiou a tentativa de golpe?
Foto: Site PT

A prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, trouxe à tona um dos capítulos mais sombrios da tentativa de golpe que ameaçou a democracia brasileira. Acusado de envolvimento na trama que visava sequestrar e assassinar autoridades, como o presidente Lula, o vice Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes, Braga Netto se tornou o primeiro general quatro estrelas a ser encarcerado no país desde o fim da ditadura militar.

Agora, a Polícia Federal concentra seus esforços na investigação de quem financiou a tenebrosa operação que, caso fosse bem sucedida, instauraria uma nova ditadura no país.

“Pessoal do agronegócio”
Em depoimento à PF, o tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, afirmou que o dinheiro para a operação antidemocrática “foi obtido junto ao pessoal do agronegócio”. Segundo Cid, os recursos para levar a cabo o plano de assassinato — um total de R$ 100 mil — foram entregues ao major Rafael de Oliveira em uma caixa de vinho, para depois chegarem às mãos de Braga Netto. A verba, em espécie, foi utilizada para a compra de celulares, que serviram para o monitoramento de autoridades e o planejamento das ações.

Apesar de extremamente preocupante, o alinhamento de partes do agronegócio a tentativas de golpe não chega a ser novidade. Após as eleições de 2022, empresários da área financiaram manifestações antidemocráticas, como bloqueios de rodovias e mobilização de caminhoneiros, com o objetivo de deslegitimar a vitória de Lula. Em seguida, o setor patrocinou os atos extremistas de 8 de janeiro de 2023, que invadiram e depredaram os palácios da Praça dos Três Poderes e objetivavam tomar à força o poder.

A Frente Parlamentar da Agropecuária, uma das mais poderosas do Congresso Nacional, tenta se distanciar de qualquer envolvimento com os golpistas. Porém, as investigações continuam a desvendar os laços entre empresários do setor e as ações antidemocráticas. A Frente argumenta que os envolvidos devem ser responsabilizados sem que isso prejudique a imagem de uma atividade fundamental para a economia do país.

A busca de pistas
“As dezenas de pen drives apreendidos com Flávio Botelho Peregrino, principal assessor do general Walter Braga Netto, são o melhor caminho para se buscar pistas sobre o ‘pessoal do agro’”, afirmou Míriam Leitão, em recente coluna no jornal O Globo. Segundo a jornalista, o material traz novos dados sobre a origem dos recursos e as conexões entre os financiadores e os executores do plano.

Leitão continua: “A lei diz que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Mas os investigados produziram e isso tem indicado o caminho da investigação”. A quantidade de evidências já reunida é robusta: além dos R$ 100 mil entregues ao major Oliveira, há documentos, mensagens de texto e áudios que detalham as etapas da trama. Até o momento, 40 pessoas já foram indiciadas pela Polícia Federal. Esse número pode aumentar, à medida que as investigações avançam.

“Kids pretos”
Embora Braga Netto negue participação, as delações de Mauro Cid indicam que ele teria papel central na articulação financeira e logística da operação. Além dele e de Rafael de Oliveira, o general Mário Fernandes e os oficiais Hélio Ferreira Lima e Rodrigo Bezerra de Azevedo também foram apontados como operadores do esquema.

O grupo faz parte dos “kids pretos”, militares da ativa ou da reserva do exército especialistas em operações especiais. Segundo a PF, a equipe havia preparado um “detalhado planejamento operacional, denominado ‘Punhal Verde e Amarelo’, que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022”. O plano, como se sabe, culminaria com o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.

Texto originalmente publicado no site do PT Nacional.