Ao longo de 18 meses de governo, a lista de afrontas de Jair Bolsonaro ao meio ambiente é extensa. Desmantelamento dos órgãos de fiscalização e monitoramento do desmatamento, perseguição a diferentes associações e ONGs e estímulo a queimadas e à depredação de inestimáveis recursos da biodiversidade são alguns exemplos da política ambiental criminosa de Bolsonaro e sua trupe.
Só que toda essa destruição começa a gerar fatura para os empresários brasileiros diante da pressão da opinião pública e dos investidores internacionais. É importante lembrar que grandes empresas exportadoras e do agronegócio foram apoiadoras de primeira ordem do antiambientalismo de Bolsonaro porque achavam que iam aumentar os seus lucros.
Só que o efeito foi contrário, e começaram a perder dinheiro com as constantes ameaças internacionais de boicote e a suspensão do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O temor do empresariado é que produtos agrícolas e até a carne brasileira comecem a ser foco de veto internacional.
Diante de um cenário sombrio, as empresas mudaram o tom e assinaram um manifesto demonstrando preocupação com a imagem ambiental do Brasil no exterior e, pasmem, pedindo ações de combate ao desmatamento e proteção da Amazônia. Na verdade, mudaram de posição porque estão preocupadas com os lucros, pois estão se lixando para o meio ambiente.
Segundo dados do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Inpe, 3 mil quilômetros quadrados já foram desmatados de forma ilegal em 2020. Só em junho, mais de 1 mil quilômetros quadrados de área verde estão sob alerta; o número é 10,6% maior do que o registrado no mesmo mês de 2019. Já os focos de queimadas atingiram índices maiores que nos últimos 13 anos. A expectativa é que em 2020 registre-se aumento de até 30% no desmatamento.
A personificação da falta de um plano de desenvolvimento sustentável pelo governo Bolsonaro é a atuação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que segue no cargo mesmo diante de toda a pressão internacional.
A gestão de Salles é marcada pelas inúmeras tentativas de consolidação de ocupações irregulares que atentam contra o Código Florestal, a liberação de terras protegidas para o agronegócio na Amazônia, ampliação de zonas de garimpo, apoio aos madeireiros, descaso com a preservação e ampliação de reservas indígenas, afrouxamento na fiscalização e na punição dos crimes ambientais. Tudo com aval do presidente da República.
A pressão do empresariado não parece ter surtido efeito. Nada, aliás, parece ser capaz de colocar freio na sanha destruidora do atual governo. Em vez de promover mudanças na política ambiental, Bolsonaro, ao que parece, vai investir em propaganda para tentar convencer a comunidade internacional de que não há uma crise ambiental e que a preservação da Amazônia é prioridade. Sabemos que fazer propaganda de fachada não adianta nada.
Para mudar a imagem internacional do Brasil e evitar vultosos prejuízos às empresas brasileiras, Bolsonaro terá que tomar medidas concretas como fortalecer o Ibama e demais órgãos de fiscalização, punir rigorosamente os criminosos ambientais e adotar uma política eficaz de desenvolvimento sustentável na Amazônia. Caso contrário, o empresariado brasileiro vai sentir o peso no bolso, os trabalhadores vão perder ainda mais empregos e vamos assistir ao maior crime ambiental da história.
Fonte: Carlos Zarattini
Artigo publicado no Jornal O Globo: