
Em discurso na abertura da Cúpula do Clima, em Belém (PA), com a participação de 57 chefes de Estado e de governo, o presidente Lula exaltou a realização da COP30 na região amazônica, cuja floresta, segundo ele, é o maior símbolo da causa ambiental no “imaginário global”.
“Passados mais de 30 anos da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, a Convenção do Clima regressa ao país onde nasceu. Hoje, os olhos do mundo se voltam para Belém com imensa expectativa. Pela primeira vez na história, uma COP do Clima terá lugar no coração da Amazônia. No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a floresta amazônica. Aqui correm os milhares de rios e igarapés que conformam a maior bacia hidrográfica do planeta. Aqui habitam as milhares de espécies de plantas e animais que compõem o bioma mais diverso da Terra. Aqui residem milhões de pessoas e centenas de povos indígenas, cujas vidas são atravessadas pelo falso dilema entre a prosperidade e a preservação”, ressaltou Lula.
Lula lembrou no discurso que 2025 é o “ano do multilateralismo”, com a celebração dos 80 anos de fundação da Organização das Nações Unidas e os dez anos da adoção do Acordo de Paris.
“O ano de 2025 é um marco para o multilateralismo. Celebramos os 80 anos da fundação da Organização das Nações Unidas e os dez anos da adoção do Acordo de Paris. A força do Acordo de Paris reside no respeito ao protagonismo de cada país na definição de suas próprias metas, à luz de suas capacidades nacionais. Passada uma década, ele se tornou o espelho das maiores qualidades e limitações da ação multilateral. Graças ao Acordo, nos afastamos dos prognósticos que anteviam aumento de até cinco graus na temperatura média global até o final do século. Provamos que a mobilização coletiva gera resultados. Mas o regime climático não está imune à lógica de soma zero que tem prevalecido na ordem internacional”, afirmou.
Após citar o relatório de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que estima que o planeta caminha para ser dois graus e meio mais quente até 2100, e enumerar uma série de catástrofes climáticas que irão provocar perdas humanas e materiais drásticas, o presidente Lula fez um chamado ao mundo.
“É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la. Para o Brasil, a COP 30 será o ponto culminante de um caminho pavimentado ao longo de nossas presidências do G20 e do BRICS. No G20, colocamos na mesma mesa os ministérios de meio ambiente e de finanças das 20 economias que respondem por cerca de 80% das emissões globais. No BRICS, reafirmamos a centralidade do financiamento climático, da capacitação e da transferência de tecnologias.Esta Cúpula de Líderes é uma inovação que trazemos ao universo das COPs. As convergências já são conhecidas. Nosso objetivo será enfrentar as divergências”, destacou o presidente brasileiro.
Lula, porém, afirmou estar convencido de que, “apesar das dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”.
E completou que “para avançar, será preciso superar dois descompassos. O primeiro é a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real. As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição. Podem não compreender o que são sumidouros de carbono ou reguladores climáticos, mas reconhecem o valor das florestas e dos oceanos. Podem não ser versadas em financiamento concessional ou misto, mas sabem que nada se faz sem recursos. Podem não assimilar o significado de um aumento de um grau e meio na temperatura global, mas sofrem com secas, enchentes e furacões”, argumentou.
O presidente finalizou seu discurso de abertura da COP30 narrando a crença que existe entre os entre os povos indígenas Yanomami, que habitam a Amazônia, “de que cabe aos seres humanos sustentar o céu, para que ele não caia sobre a Terra”.
“Essa perspectiva dá a medida da nossa responsabilidade perante o planeta, principalmente diante dos mais vulneráveis. Mas também reconhece que o poder de expandir horizontes está em nossas mãos. Temos que abraçar um novo modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e de baixo carbono. Espero que esta Cúpula contribua para empurrar o céu para cima e ampliar nossa visão para além do que enxergamos hoje”, conclamou Lula.
Ao encerrar sua fala, o presidente Lula fez um agradecimento aos trabalhadores e trabalhadoras que atuam na organização da Conferência do Clima em Belém do Pará e que estão garantindo sua realização.
Cúpula do Clima
O evento conta com a participação de 57 chefes de Estado e de governo e é uma espécie de abre-alas para a COP 30 que vai de 10 a 21 de novembro. Em debate, temas como clima e natureza, transição energética e os diferentes impactos das tragédias climáticas na humanidade.
Convocada pelo presidente Lula, a cúpula representa um marco central no processo de mobilização e diálogo internacional sobre a agenda climática. Além dos chefes de Estado e de Governo, o encontro reúne ministros e dirigentes de organizações internacionais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento da mudança do clima.
A Cúpula do Clima terá uma plenária ampla, que foi aberta pelo presidente Lula na manhã desta quinta-feira e será realizado o almoço do Fundo de Florestas Tropicais (TFFF, na sigla em inglês). O Fundo é uma proposta encabeçada pelo Brasil para remunerar países pela conservação das florestas tropicais, reservando 20% para povos indígenas e comunidades tradicionais.
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Texto originalmente publicado pelo site do PT Nacional.