Alta da Selic é “incompreensível e totalmente injustificada”, afirma CNI

Enquanto juros sobem, confiança da indústria cai e crescimento econômico desacelera; confederação reclama revisão da política monetária do BC

13 dez 2024, 14:59 Tempo de leitura: 4 minutos, 5 segundos
Alta da Selic é “incompreensível e totalmente injustificada”, afirma CNI
Foto: Miguel Ângelo/CNI e Site do PT

Na última quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual. O patamar passou de 11,25% para 12,25% ao ano. Trata-se do ato final da sabotagem ao governo patrocinada por Campos Neto, presidente da autarquia até o final deste ano. A decisão injustificável ocorre em um cenário de desaceleração da inflação e de plena recuperação econômica, quando o esperado era uma redução na taxa, vital para impulsionar o crescimento do país.

O impacto na indústria brasileira foi imediato, como mostram os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Antes do anúncio do Copom, a entidade divulgou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu 2,5 pontos em dezembro, chegando a 50,1 — uma transição do otimismo para a neutralidade.

O efeito no setor produtivo
O fim do ciclo de corte da Selic, iniciado em setembro, tem gerado efeitos negativos em uma indústria que, após anos de crise sob Bolsonaro, vinha mostrando sinais pungentes de recuperação. “Nos últimos meses, a retomada da elevação dos juros vem afetando a confiança dos empresários sobre os seus negócios e, principalmente, sobre a economia”, afirmou Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.

O ICEI, que mede tanto as condições atuais das empresas quanto as expectativas para os próximos meses, refletiu essa mudança na percepção dos empresários. O componente Índice de Condições Atuais caiu 1,8 ponto, atingindo 46,5 pontos, o que indica uma visão negativa sobre o presente. Por outro lado, o Índice de Expectativas, que ainda se mantém acima dos 50 pontos, aponta que os empreendedores continuam esperando um futuro melhor, mas com uma perspectiva já mais cautelosa.

A redução da confiança não é um fenômeno isolado. Ela reflete um sentimento geral de insegurança econômica, que inclui ainda a perspectiva de novos aumentos na taxa de juros. Para a CNI, a decisão do Copom é “incompreensível e totalmente injustificada”, especialmente considerando que a inflação desacelerou em novembro, e que o governo federal já tomou medidas para controlar o crescimento das despesas. De acordo com a Confederação, a intensificação da alta agrava a situação fiscal do país, prejudicando os investimentos e a geração de empregos.

A percepção da indústria
Além do aumento da Selic, a volatilidade do câmbio também é uma preocupação da Confederação. A desvalorização do real frente ao dólar, fruto de pura especulação financeira de um mercado que não aceita ver um governo trabalhando em prol da igualdade e dos mais necessitados, não apenas encarece os insumos importados, como também aumenta os custos operacionais e reduz a margem de lucro.

Com os fatores câmbio e juros, as perspectivas para o setor produtivo começam a ser mais pessimistas. A Confederação já explicitou, em nota, sua insatisfação com a política monetária do BC, temendo que a continuidade do ciclo de alta da Selic reverta os avanços da indústria em 2024.

Críticas de todos os lados
Logo após o anúncio do Banco Central, a CNI emitiu nova nota, afirmando que o remédio da autarquia contra a inflação traz efeitos indesejados sobre a economia e precisa ser revisto com urgência. Segundo a entidade, o Brasil precisa reduzir o custo do crédito que, no final da cadeia produtiva, recai principalmente sobre empresas e consumidores. Caso contrário, o país pode desperdiçar a oportunidade de assumir o protagonismo mundial na transição energética, que requer investimentos elevados.

A desaprovação veio até mesmo da Globonews, canal frequentemente alinhado ao pensamento do mercado financeiro. “A ata do Copom está bastante clara na direção de que o Banco Central quer produzir uma recessão. Eles não querem um PIB muito alto e nem um desemprego muito baixo”, denunciou a jornalista Flávia Oliveira, desnudando a sabotagem impetrada pela presidência de Campos Neto. Afinal, a quem interessa uma crise em um país em plena recuperação, a não ser aos agentes que lucram e tem interesses políticos com ela?

É portanto imprescindível que o BC, a partir de janeiro sob a presidência de Gabriel Galípolo, reavalie suas estratégias e ajuste sua política monetária para que a economia brasileira não sofra mais os danos dessa criminosa taxa de juros. Se a cautela contra a inflação pregada pelo BC é importante, o crescimento da indústria é necessário para o desenvolvimento de um país cada vez melhor e mais justo.

Texto originalmente publicado pelo site do PT Nacional.