Combustíveis dolarizados pela Petrobras são a maior causa da carestia. INPC também subiu, mas dois terços das negociações em agosto fecharam com reajuste abaixo da inflação
Em 2021, o IPCA já acumula alta de 8,24% no ano. Nos últimos 12 meses, de 10,67%, acima dos 10,25% observados nos 12 meses imediatamente anteriores e maior patamar desde janeiro de 2016 (10,71%). Em outubro de 2020, a variação mensal foi de 0,86%.
A inflação foi mais disseminada em outubro do que em setembro. O índice de difusão passou de 65% para 67%. O indicador reflete o espalhamento da alta de preços entre os 377 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE. Todas as áreas e todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta.
O maior impacto (0,55 p.p.) e a maior variação (2,62%) vieram de Transportes, que aceleraram em relação a setembro (1,82%). A segunda maior contribuição (0,24 p.p.) veio de Alimentação e bebidas (1,17%), e a segunda maior variação veio de Vestuário (1,80%).
Habitação, com alta de 1,04% e 0,17 p.p. de impacto, e Artigos de residência, que variou 1,27%, contribuindo com 0,05 p.p. no índice do mês, também se destacam. Os demais grupos ficaram entre o 0,06% de Educação e o 0,75% de Despesas pessoais.
Mais uma vez, a alta nos Transportes (2,62%) decorre principalmente dos preços dos combustíveis (3,21%). A gasolina subiu 3,10% e teve o maior impacto individual no mês (0,19 p.p.). Foi a sexta elevação consecutiva nos preços desse combustível, que acumula altas de 38,29% no ano e de 42,72% nos últimos 12 meses.
Também aceleraram os preços das passagens aéreas, em 33,9%. Houve alta em todas as regiões pesquisadas, a até 47,52% em Recife. A depreciação cambial e a alta dos preços do querosene de aviação, segundo o gerente do IPCA, têm contribuído com o aumento das passagens aéreas. Outro destaque foi a aceleração dos preços do transporte por aplicativo (19,85%), que já haviam subido 9,18% em setembro.
Já a alta do grupo Habitação (1,04%) foi influenciada mais uma vez pela energia elétrica (1,16%). Em outubro, foi mantida a bandeira Escassez Hídrica, que soma R$ 14,20 na conta a cada 100 kWh consumidos. Ainda em Habitação, destaca-se o gás de botijão (3,67%), na 17ª alta consecutiva, promovida também pela gestão do general Joaquim Silva e Luna na Petrobras. A variação acumulada é de 44,77% desde junho de 2020.
O resultado frustrou a expectativa do Relatório de Inflação do Banco Central (BC), que indicava o pico do IPCA em setembro e desaceleração no acumulado de 12 meses em outubro. O BC estimou a inflação em 8,5% no fim de 2021, enquanto o mercado financeiro, no Boletim Focus, espera por 9,33%.
“A alta da gasolina está relacionada aos reajustes sucessivos que têm sido aplicados no preço do combustível, nas refinarias, pela Petrobras”, explica o gerente do IPCA, Pedro Kislanov. “Além da gasolina, houve aumento também nos preços do óleo diesel (5,77%), do etanol (3,54%) e do gás veicular (0,84%)”, acrescentou.
Maioria não repõe perdas
Referência para reajustes de salários e benefícios previdenciários, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de outubro subiu 1,16%, 0,04 p.p. abaixo do resultado de setembro (1,20%). Também é o maior resultado para o mês desde 2002 (1,57%). No ano, o indicador acumula alta de 8,45% e, em 12 meses, de 11,08%, acima dos 10,78% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
No entanto, o Boletim de Negociação mais recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela que dois terços das campanhas salariais de categorias com data-base em agosto tiveram reajuste abaixo da inflação acumulada.
Conforme o documento, 66,3% das negociações em agosto resultaram em perdas, ante 16,8% no mesmo mês de 2020. Dos acordos fechados até agora relativos a agosto, apenas 8,8% chegaram a reajuste acima do INPC. Outros 25% ficaram com índice equivalente ao da inflação.
Agosto apresentou o pior resultado de um ano que registrou acordos abaixo do INPC em seis de oito meses. Em consequência, no acumulado de janeiro a agosto o resultado também é ruim: quase metade dos reajustes (48,5%) ficou abaixo do INPC. Nada indica que setembro e outubro, com taxas recordes de inflação, tenham sido melhores.
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