Ata do Copom: em tom de ameaça, BC reafirma sabotagem contra a economia

Nota do BC condiciona redução da Selic à inflação inexistente e “novo” teto de gastos. “Querem desacelerar ainda mais a economia e manter juros na estratosfera.

29 mar 2023, 18:32 Tempo de leitura: 4 minutos, 49 segundos
Ata do Copom: em tom de ameaça, BC reafirma sabotagem contra a economia
Ataque à economia: Banco Central mantém o tom de confronto com governo eleito pelo povo (Foto: Beto Nociti – BCB)

Presidente do BC sequestrou a política econômica do Brasil com as altas taxas de juros, acusa Zarattini

O Banco Central presidido por Roberto Campos Neto avança na estratégia de chantagear o governo Lula para submetê-lo à agenda do mercado financeiro. A nova ata do Comitê de Política Monetária (Copom), emitida nesta terça-feira (28) pela instituição, confirma que Campos Neto pretende sabotar o crescimento do país para continuar a permitir o despejo de bilhões de reais ao rentismo. E como ele faz isso? Pelo terrorismo fiscal. É o que deixa claro a ata do Copom, sinalizando o temor de uma pressão inflacionária inexistente e a exigência de um arcabouço fiscal “crível” e “sólido”.

Trocando em miúdos: o governo não pode expandir gastos, sobretudo em áreas sociais. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, ameaçou a instituição, em claro recado à equipe econômica de Lula. Detalhe: as projeções de inflação para 2023 são de 5,6%, uma inflação que não é de demanda.

Especulação financeira

“O presidente do Banco Central prefere favorecer a especulação financeira a garantir o desenvolvimento brasileiro”, disparou o vice-líder do governo no Congresso, Carlos Zarattini. O deputado federal pelo PT de São Paulo reforçou que é preciso uma reação aos desmandos de Campos Neto.

“O papel do Congresso é protestar porque não existe outro caminho”, alertou o deputado. “Não pode 0,1% de bilionários brasileiros quererem impedir o Brasil de se desenvolver, de gerar empregos. Chega da política econômica do Paulo Guedes”, protestou.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), em pronunciamento no tempo de Liderança do partido, na noite dessa segunda-feira (27), fez duras críticas ao presidente do Banco Central, Campos Neto. “Hoje nós estamos vendo a política econômica do Brasil ser sequestrada por um homem, o presidente do Banco Central do Brasil, que não foi eleito por nenhum voto — por nenhum voto! —, a não ser o do ex-presidente da República, que o indicou para um mandato de 4 anos”, protestou.

Esse senhor, continuou Zarattini, “que não tem nenhum compromisso com o povo brasileiro”, resolveu manter a taxa de juros no Brasil como a maior taxa de juros do mundo. E essa taxa de juros, explicou o parlamentar, tem uma incidência enorme sobre a vida de todos os brasileiros e brasileiras. “É a taxa de juros que impede o crescimento das empresas. É a taxa de juros que leva milhares de pequenas e microempresas, principalmente, a uma situação de grande dificuldade de sobrevivência, porque não conseguem capital de giro para continuar funcionando. É a taxa de juros que impede o consumidor de financiar as suas compras”, criticou.

O deputado citou que tem indústria automobilística parando suas atividades por falta de compradores. “Essa taxa de juros se contrapõe à realidade, e aqui não sou eu quem está falando isso. Quem fala isso são os economistas de todas as tendências. O Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz veio ao Brasil e disse que não entende como a economia brasileira sobrevive com tal patamar de taxa de juros”.

Apesar de todo o esforço do governo Lula para garantir que a economia volte a funcionar no ritmo do crescimento econômico, Zarattini reconhece que a economia está estagnada. “E nós precisamos do crescimento econômico para gerar empregos para o nosso povo, em particular, para a juventude. Hoje [ontem] saiu um dado de que mais da metade dos jovens brasileiros estão desempregados, estão sem conseguir emprego, sem conseguir trabalho exatamente porque a economia não cresce”, lamentou.

BC perde credibilidade

Tanto o conteúdo da ata do Copom quanto o destempero de Campos Neto à frente do BC também foram alvo de críticas de economistas, após a divulgação da ata. A primeira justificativa demolida foi o cuidado com uma suposta pressão inflacionária exposta pelo Comitê no documento.

O economista e professor de economia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), André Roncaglia, apontou que o país já passa por um processo de desinflação, o que não justifica a teoria do BC. “Não vejo esse temor de um descontrole que nos levaria a uma hiperinflação”, opinou, em entrevista à GloboNews. “Deixar a política monetária num contexto tão restritivo vai diminuindo a própria credibilidade do Banco Central”, advertiu.

Mais cedo, pelo twitter, o economista abordou a política por trás do “tecnicismo” de Campos Neto: “A ata da última reunião do Copom é uma colagem de boatos, meias verdades e insinuações”, fulminou Roncaglia. “A ata tenta ser didática. Há muitos terraplanistas que são didáticos, nem por isso o que dizem é válido. A ata se encaixa neste espaço hermenêutico. A gestão Roberto Campos Neto ameaça a credibilidade do BC”, insistiu.

“O que estamos vendo é uma tentativa do Banco Central de disciplinar a politica fiscal”, observou o economista Paulo Nogueira Batista Jr. pelo seu canal no You Tube. “O Banco Central, recorrentemente, ameaça recrudescer no aperto de juros se o governo não praticar uma política fiscal que ele considere adequada”, criticou.

Da Redação

Publicado no site Partido dos Trabalhadores e replicado neste canal.