Os bancos navegam em mar de brigadeiro no Brasil de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, contornando o tsunami formado por alto desemprego, informalidade galopante, inflação descontrolada, queda da produção industrial e fome crescente. No terceiro trimestre deste ano, o lucro líquido de Itaú, Bradesco e Santander totalizou R$ 17,886 bilhões – uma alta anual de 28,5%.
Os balanços dos principais bancos privados do país foram divulgados nos últimos dias. O lucro somado das três instituições somou R$ 51,79 bilhões no acumulado de janeiro a setembro – um crescimento de 46,1% em relação ao mesmo período de 2020.
O Itaú puxou a alta, com resultado de R$ 6,78 bilhões. Subiu 34,8% em relação ao mesmo período de 2020, impulsionado por empréstimos para pessoas físicas e menores provisões. O retorno sobre o patrimônio líquido, um indicador de lucratividade, foi de 19,7% no trimestre, contra 15,7% em 2020. O lucro líquido recorrente, que exclui itens extraordinários, foi de R$ 6,779 bilhões. Um ano antes, havia sido de R$ 5,03 bilhões.
A rápida expansão dos empréstimos de varejo, juntamente com maiores ganhos comerciais, resultou em aumento de 15,3% na receita líquida de juros do Itaú, para R$19,5 bilhões. As receitas com tarifas cresceram 6,4%. As despesas operacionais subiram 1% em relação ao ano anterior, bem abaixo da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25% em 12 meses até setembro.
O Bradesco registrou lucro líquido de R$ 6,767 bilhões no terceiro trimestre. O resultado representa aumento de 34,5% em relação ao mesmo período de 2020 e superou as projeções dos analistas, que apontavam para lucro de R$ 6,362 bilhões. Praticamente um “empate técnico” com o Itaú, mas o Bradesco é menor que o concorrente histórico.
Com o lucro maior, o retorno do Bradesco, segundo maior banco privado brasileiro, aumentou de 15,2% para 18,6% no terceiro trimestre. Apesar da melhora, a rentabilidade ficou abaixo tanto do Itaú quanto do Santander Brasil.
Há duas semanas, o espanhol Santander divulgou lucro de R$ 4,27 bilhões no trimestre, alta de 12% em relação ao mesmo período de 2020. Em comparação com o segundo trimestre, cresceu 4,1%.
A rentabilidade sobre o patrimônio líquido alcançou 22,4%, a maior da história do Santander, que aprovou a distribuição de R$ 3 bilhões aos acionistas – livres de impostos. O Brasil é um dos quatro países ao redor do mundo que não tributa o pagamento de dividendos aos acionistas, segundo levantamento da Tax Foundation.
O resultado consolida a volta dos resultados dos grandes bancos privados a níveis próximos aos de antes da crise da covid-19. “Os números demonstram nossa capacidade de reagir rapidamente às mudanças de cenário”, comemorou Octavio de Lazari Jr., presidente do Bradesco. No Brasil real das ruas, não há o que comemorar.
Ilhas de prosperidade
A taxa de desemprego ficou em 13,2% no trimestre encerrado em agosto. Representa 13,7 milhões de pessoas em busca de uma vaga. A população fora da força de trabalho ficou em 73,4 milhões de pessoas.
O rendimento médio real dos trabalhadores recuou 4,3% frente ao trimestre encerrado em maio e 10,2% em relação ao mesmo trimestre de 2020. Foram as maiores quedas percentuais da série histórica, em ambas as comparações.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas aponta que a maior taxa de inflação registrada nos últimos 27 anos tem punido as famílias brasileiras. De acordo com o levantamento, 70% dos trabalhadores e trabalhadoras do País recebem, hoje, menos do que recebiam antes da pandemia. A pesquisa mostra ainda que apenas os 10% dos brasileiros que mais recebem dinheiro estão aumentando a renda.
Já o crescimento da lucratividade dos bancos neste ano se deve ao avanço no crédito e aos provisionamentos, reservas criadas para cobrir perdas futuras, feitos em 2020. Menos de uma semana após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia de covid-19, o desgoverno Bolsonaro liberou R$ 1,2 trilhão para os bancos renegociarem prazos para créditos já concedidos. Mais de um ano após o início da pandemia, os bancos privados só haviam usado 23,7% desse valor.
“No ano passado, houve queda nos balanços, mas não necessariamente por problemas na atividade financeira. O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia decretada, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência”, explicou Vivian Machado, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT), em entrevista ao Brasil de Fato.
O cenário para as instituições foi menos desastroso que o imaginado, devido aos planos emergenciais de crédito criados pelo Congresso Nacional e lançados pelo Banco Central (BC). O provisionamento excedente está sendo revertido em lucro.
Bancos eliminaram 6,7 mil empregos
“Não é justo socialmente, enquanto concessões públicas, eles estarem cada vez mais demitindo, fechando postos de trabalho, especialmente em um momento delicado como esse”, criticou Machado, lançando luz sobre o terceiro elemento dos lucros: a redução de despesas com funcionários, via demissões e terceirização de serviços.
Em migração para o formato digital, os bancos privados fecharam 1.343 agências durante a pandemia. As empresas haviam firmado compromisso com os sindicatos de não demitir durante a pandemia, mas quebraram a palavra a partir de junho de 2020.
Bradesco e Santander fecharam 10.933 postos de trabalho entre julho de 2020 e março de 2021. O Itaú foi o único dos grandes bancos privados a aumentar o número de funcionários, mas como resultado da incorporação de uma empresa de tecnologia.
O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região (SPBancários) estima que entre setembro de 2020 e setembro deste ano os bancos eliminaram 6.763 postos de trabalho. Das 44.003 demissões registradas, 45,7% foram sem justa causa.
“Apesar do saldo positivo de postos de trabalho em setembro e também no acumulado de 2021, quando analisamos o acumulado dos últimos 12 meses percebemos que o setor extinguiu 6.763 empregos, isso em plena pandemia”, revela a secretária de Comunicação do sindicato, Marta Soares.
“Fechamento de agências significa exclusão bancária de uma enorme parcela da sociedade brasileira, que vive longe de grandes centros urbanos, de bairros centrais e regiões mais abastadas, ou que não tem acesso à internet, seja por falta de conhecimento ou porque vive em locais onde a rede não é disponibilizada”, completa Neiva Ribeiro, secretária-geral do SPBancários.
Da Redação, com informações do SPBancários e Brasil de Fato
Matéria publicada no site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.