Presidente não tem o que comemorar até agora nas eleições municipais

Candidaturas apoiadas pelo líder da extrema-direita brasileira derretem nas principais capitais do país. Sem mostrar saída para crise, com inflação alta e desemprego recorde, rejeição a Bolsonaro cresce e explica enfraquecimento dos ungidos pelo Planalto. Crivella patina no Rio, Russomano esfarela em São Paulo e, em Belo Horizonte, Engler derrapa. No Recife, direita se divide e empaca na corrida pelo comando da prefeitura

26 out 2020, 18:08 Tempo de leitura: 4 minutos, 32 segundos
Presidente não tem o que comemorar até agora nas eleições municipais

Candidaturas apoiadas pelo líder da extrema-direita brasileira derretem nas principais capitais do país. Sem mostrar saída para crise, com inflação alta e desemprego recorde, rejeição a Bolsonaro cresce e explica enfraquecimento dos ungidos pelo Planalto. Crivella patina no Rio, Russomano esfarela em São Paulo e, em Belo Horizonte, Engler derrapa. No Recife, direita se divide e empaca na corrida pelo comando da prefeitura 

O presidente Jair Bolsonaro não tem o que comemorar na sua primeira eleição como o principal cabo eleitoral do governo. Os candidatos apoiados oficialmente pelo líder da extrema-direita estão se saindo mal nas pesquisas e não empolgam sequer a camada mais conservadora da sociedade brasileira. Sem um partido estruturado que possa ser chamado de seu, o bolsonarismo foi para a corrida eleitoral apostando em pangarés do reacionarismo, como Celso Russomano (Republicanos), que disputa a Prefeitura de São Paulo e caiu 7 pontos percentuais na última rodada de pesquisas, de acordo com o Datafolha.

“O grande derrotado nas eleições municipais de 2020 é Bolsonaro”, opina o jornalista Rodrigo Vianna. “O presidente sairá chamuscado no eixo Rio-SP, e enfraquecido em outras capitais importantes”, avalia. Experiente observador da cena política brasileira dos últimos 20 anos, Viana diz que Bolsonaro não tem o que comemorar e para sobreviver, dependerá cada vez mais do Centrão. Isso tira fôlego do discurso extremista/terraplanista que foi fundamental para dar vitória a ele em 2018”, aponta. “Depois da derrota golpista na Bolívia, e do avanço dos democratas no Chile, a onda de extrema direita parece perder força também nas eleições municipais no Brasil”.

O derretimento de Russomano – amigo fiel do presidente dos tempos em que ambos eram expoentes da inexpressiva bancada malufista no PP – não parece ser um fenômeno isolado. Enquanto o candidato do bolsonarismo caiu 7 pontos percentuais, o nome do PT pela Prefeitura de São Paulo, o advogado Jilmar Tatto, avançou três pontos. Tatto encarna a denúncia contra a política destrutiva de Bolsonaro, espelhada em São Paulo por Celso Russomano.

Assim como na capital paulista, em outras cidades importantes do país, a alta rejeição de Bolsonaro tem funcionado como uma âncora para os candidatos da extrema-direita e dos conservadores. O presidente perde popularidade por conta de sua política econômica de arrocho fiscal, que agravou o quadro social no país, já deteriorado pela crise sanitária. O corte do auxílio emergencial, reduzido de R$ 600 para R$ 300, também é outra bandeira do bolsonarismo que cobra seu preço.

E a economia brasileira patina com o  agravamento da crise desencadeada pelo neoliberalismo de Paulo Guedes. O resultado disso tudo é a piora das condições de vida da maioria da população. O aumento da desigualdade social, a alta do desemprego e a elevada inflação dos alimentos – os principais problemas do país hoje – funcionam como um peso no pé dos escolhidos pelo bolsonarismo para disputar as prefeituras de muitas das capitais brasileiras. O problema se repete em outras praças.

Rio, Belo Horizonte e Recife

Se em São Paulo Bolsonaro virou um problema como cabo eleitoral, no Rio a associação do presidente com o prefeito Marcelo Crivella também resultou numa trava para a reeleição do líder político ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Marcelo Crivella está empatado com a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), em segundo lugar, de acordo com as pesquisas eleitorais, no mesmo patamar da candidata Marta Rocha, candidata do PDT. Para quem tem a máquina municipal nas mãos e que conta com o peso da Rede Record de Televisão, não parece ser promissora a situação dele, que teve ainda a candidatura cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio.

Em Belo Horizonte, o bolsonarismo também derrapa sem força eleitoral. O candidato da família presidencial, o inexpressivo Bruno Engler, nome do minúsculo PRTB, não empolga o eleitorado mineiro, conforme demonstram as últimas pesquisas eleitorais. Lá, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) está muito à frente nas pesquisas, dificultando a defesa das bandeiras do bolsonarismo. 

Coordenador das redes sociais do Movimento Direita Minas, um conglomerado de reacionários empolgados em travar uma guerra cultural permanente com a esquerda, Brunoi Engler diz que representa os valores conservadores em Minas Gerais. Não tem empolgado os belohorizontinos. Tem algo em torno de 2% das pesquisas.

Em Recife, o bolsonarismo se dividiu entre dois expoentes do reacionarismo: Mendonça Filho (DEM), ex-ministro do governo Michel Temer e prócer da direita pernambucana, e a Delegada Patrícia (Podemos), uma outsider que se apresenta como a “Moro de Saias”, nascida no Rio de Janeiro e que é uma defensora da política de destruição econômica da Lava Jato. Ambos estão em um empate técnico com a petista Marília Arraes, que luta para enfrentar o deputado federal João Campos (PSB), filho e herdeiro político do primo da parlamentar, o ex-governador Eduardo Campos, no segundo turno das eleições.

Matéria publicada no site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.