Demissão no Inpe sugere “apagão” de dados do desmatamento

“Com toda essa pressão que o Brasil está sofrendo, com o prestígio que o Inpe tem no exterior, parece que esse governo não entende quais são as partes importantes na ciência brasileira”, avaliou Ricardo Falcão, ex-diretor do Inpe A demissão da diretoria do INPE, Lúbia Vinhas, em meio aos questionamentos sobre a política ambiental do Brasil, teve a pior […]

15 jul 2020, 11:19 Tempo de leitura: 3 minutos, 17 segundos
Demissão no Inpe sugere “apagão” de dados do desmatamento

“Com toda essa pressão que o Brasil está sofrendo, com o prestígio que o Inpe tem no exterior, parece que esse governo não entende quais são as partes importantes na ciência brasileira”, avaliou Ricardo Falcão, ex-diretor do Inpe

A demissão da diretoria do INPE, Lúbia Vinhas, em meio aos questionamentos sobre a política ambiental do Brasil, teve a pior repercussão no exterior. “No mínimo, é muito estranho que um gerente do Inpe que lida com dados de desmatamento seja demitido após a divulgação dos dados de desmatamento”, ironizou a Associated Press. Para o jornal português Diário de Notícia, “danos à imagem do Brasil na questão da Amazônia só se revertem com saída de Bolsonaro”.

A diretora Lúbia Vinhas foi demitida da Coordenação Geral de Observação da Terra do Inpe, sem ter sido anteriormente comunicada. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União, em portaria assinada pelo ministro da Ciência, Marcos Pontes. O governo prometeu para esta terça-feira, 14, apresentar um plano de “reestruturação” do Inpe. O anúncio feito às pressas aparentou ser mais uma tentativa de disfarçar a repercussão do caráter político da demissão da diretora.

Desmatamento recorde

A demissão da diretora ocorreu na sequência da divulgação dos dados sobre desmatamento pelo Inpe, como é função do órgão. O desmatamento na Amazônia Legal cresceu pelo 14º mês consecutivo em junho, segundo dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Apenas em junho, o desmatamento aumentou 10,7%, comparado com o mesmo mês do ano passado, de acordo com informações do Deter. Nos primeiros seis meses do ano, a área devastada chegou a 3.066 quilômetros quadrados.

“Eu não sei se é com má intenção, mas de qualquer jeito, o que posso dizer mais fortemente, foi um erro crasso (a exoneração)”. afirmou ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão, também afastado anteriormente do órgão, em entrevista exclusiva ao GGN. “Com toda essa pressão que o Brasil está sofrendo, com o prestígio que o Inpe tem no exterior, parece que esse governo não entende quais são as partes importantes na ciência brasileira”, avaliou ele. A Observação da Terra é um setor no Inpe que monitora o desmatamento da Amazônia por meio do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Militarização do Inpe

Com o afastamento da atual diretora, tudo indica que o governo pretende repetir a experiência do Ministério da Saúde, quando indicou o general Pazuello para “esconder” os dados da pandemia. Assim como no Ministério da Saúde, o Inpe vem sendo comandado por um interino, desde agosto de 2019. Não por acaso, quem está à frente do órgão é mais um militar, o oficial da Força Aérea, Darcton Policarpo Damião. Em 2019, foi aberto um “processo seletivo” para substituí-lo, até hoje sem conclusão, nem explicação.

Além de colocar em risco boa parte das exportações nacionais, a demissão deixou o ministro Paulo Guedes em maus lençóis com os investidores internacionais. Guedes fez ontem,13, um apelo patético diante da OCDE para dizer que o Brasil precisa de ajuda para continuar alimentando o mundo, preservando o meio ambiente. “Amazônia é maior do que a Europa, é difícil monitorar tudo”, disse tentando justificar o desmatamento. Com o mesmo objetivo, na semana passada, o vice-presidente general Hamilton Mourão participou de reunião com investidores descontentes.

Matéria publicada originalmente no site Partido dos Trabalhadores
https://pt.org.br/demissao-no-inpe-sugere-apagao-de-dados-do-desmatamento/ e replicada neste canal.