Irresponsável e negacionista, Bolsonaro é contaminado pela Covid-19

Em entrevista no Alvorada, presidente voltou a defender uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no tratamento da doença cujos testes foram suspensos pela OMS. “Agora que Bolsonaro foi testado positivo para a covid-19, como fica a saúde das pessoas que tiveram contato com ele?”,

7 jul 2020, 19:58 Tempo de leitura: 5 minutos, 54 segundos
Irresponsável e negacionista, Bolsonaro é contaminado pela Covid-19

Em entrevista no Alvorada, presidente voltou a defender uso da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no tratamento da doença cujos testes foram suspensos pela OMS. “Agora que Bolsonaro foi testado positivo para a covid-19, como fica a saúde das pessoas que tiveram contato com ele?”, questiona a presidenta do PT Gleisi Hofmann. “Ele é tão irresponsável que ainda recorreu à justiça para ter o direito de não usar a máscara e conseguiu. Também vetou o uso de máscara em locais de aglomeração”, aponta a líder petista. País tem mais de 66 mil óbitos e 1.643.639 casos confirmados

O histórico de atleta não foi suficiente para impedir a chegada da “gripezinha”. Descuidado, irresponsável ao promover aglomerações e arrogante quanto aos perigos representados pela pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro contraiu a doença. O resultado foi confirmado nesta terça-feira (7) pela Secretaria de Comunicação Social do Ministério das Comunicações. Diz a nota da pasta: “o resultado do teste de covid-19 feito pelo presidente Jair Bolsonaro na noite dessa segunda-feira, 6, e disponibilizado na manhã de hoje, 7, apresentou diagnóstico positivo. O presidente mantém bom estado de saúde e está, nesse momento, no Palácio da Alvorada”.

Bolsonaro também concedeu entrevista no Alvorada para confirmar a notícia. Ele voltou a fazer propaganda da hidroxicloroquina, medicamento sem comprovação de eficácia  no tratamento da doença e disse que está tomando a droga com acompanhamento médico.”Estou bem, estou normal, em comparação a ontem [segunda], estou muito bem. Estou até com vontade de fazer uma caminhada, mas, por recomendação médica, não farei”, afirmou, repetindo o tom fanfarrão de pronunciamentos anteriores. E enviou um recado para a população. “Não precisa entrar em pânico, a vida continua”. Infelizmente, mais de 66 mil brasileiros não estão aqui para ouvir os desvarios do presidente da República, vítimas que foram da sua negligência. De acordo com o último boletim do consórcio de veículos de imprensa, o país tem mais de 66.093 óbitos e 1.643.639 casos confirmados.

Na entrevista, o presidente voltou a desafiar a ciência e o bom senso. Ao final da coletiva, retirou a máscara, mesmo depois da divulgação da notícia de que o vírus permanece no ar, podendo ser transmitido por mais de um metro de distância, arriscando a vida dos profissionais que o entrevistavam. Também defendeu novamente o fim do isolamento social como maneira de retomar a e economia e voltou a minimizar a letalidade da doença, dizendo que jovens têm chance mínima de morrer por causa do coronavírus.

No fim de semana, Bolsonaro compareceu a um almoço na embaixada americana com vários convidados para comemorar a independência dos EUA. A confirmação acendeu o alerta para o embaixador Todd Chapman, que anunciou que fará teste para coronavírus. “Chapman teve um almoço privado, no dia 4 de julho, com o presidente Jair Bolsonaro, 5 ministros e o deputado Eduardo Bolsonaro. O embaixador não apresenta nenhum sintoma, mas está tomando as precauções, fará os testes e seguirá os protocolos de rastreamento do CDC (Centro de Controle de Doenças)”, disse a Embaixada Americana pelo twitter.

“Veja a quantidade de pessoas que ele pode ter contaminado por covid-19 por não ter usado máscara e adotado as medidas de distanciamento social”, criticou a deputada federal e presidenta do PTGleisi Hoffmann. “Ele é tão irresponsável que ainda recorreu à justiça para ter o direito de não usar a máscara e conseguiu. Também vetou o uso de máscara em locais de aglomeração. Agora que Bolsonaro foi testado positivo para a covid-19, como fica a saúde das pessoas que tiveram contato com ele?”, questionou Gleisi, pelas redes sociais.

Foto: André Coelho

Pária

A confirmação do contágio ganhou repercussão internacional e várias agências noticiaram o anúncio do presidente. O diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, comentou o diagnóstico de Bolsonaro e reforçou que “ninguém está protegido deste vírus”. Segundo o especialista, “isso mostra que todos somos vulneráveis”. A explosão de casos de Covid-19 no país, somada ao comportamento de Bolsonaro, segue destruindo a imagem o país no exterior.

A renomada publicação americana ‘Foreign Affairs’ destacou, com direito a manchete no portal da revista, reportagem intitulada “Bolsonaro transformou o Brasil em pária da pandemia. “O presidente Jair Bolsonaro saudou a pandemia tentando desativar o SUS, espalhar desinformação sobre o vírus e minar a colaboração internacional em saúde”, descreve a reportagem da revista. 

Importância do SUS

A publicação relembra parte da história do sistema de saúde e suas conquistas nos últimos 30 anos, como o sucesso no combate ao HVI e ao vírus zika. “Ao longo de seus 30 anos de atuação, o SUS ofereceu muitos serviços valiosos aos brasileiros, incluindo atenção primária e vigilância de doenças de longo alcance”, destaca a revista.

Além disso, pontua o veículo, o sistema usou sua capacidade de responder efetivamente a pandemias passadas: a partir da década de 1990, por exemplo, o SUS forneceu tratamento anti-retroviral gratuito para todos os brasileiros que deram positivo para o HIV. “Em 2015, um padrão de defeitos congênitos surgiu no nordeste do Brasil, e os epidemiologistas do SUS os rastrearam rapidamente até o vírus Zika e alertaram as autoridades internacionais”, destaca a publicação.

Tudo isso mudou. “O tratamento da pandemia por Bolsonaro fez muito para prejudicar a estatura internacional do Brasil no campo da saúde. O presidente populista desconsiderou as recomendações do COVID-19 da Organização Mundial da Saúde, ameaçou sair da organização e tentou interromper a publicação de dados cumulativos de casos”, observa a revista, lembrando ainda que o ministro das Relações Exteriores frequentemente critica os sistemas de cooperação multilateral, incluindo a ONU.

“Como resultado, o Brasil é agora um epicentro global para o coronavírus, com mais de 61.000 mortos. Um país que já foi admirado por seu sistema de saúde responsivo e sua diplomacia em saúde tornou-se um pária pandêmico”, relata a ‘Foreign Affairs’.

Segundo o colunista Diogo Schelp, do ‘UOL’, “é raro o Brasil obter tal destaque (manchete principal do site) em uma publicação especializada em assuntos internacionais. Infelizmente, dessa vez foi por um motivo ruim”.

Da Redação, com informações de ‘UOL’ e agências internacionais

Matéria publicada originalmente no site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.