Carlos Zaratini: Bolsonaro joga o povo brasileiro no desemprego e fome, enquanto os bancos aumentam os lucros em 100%

Apesar de Bolsonaro, é preciso reagir e lutar por medidas de apoio e incentivo às pequenas empresas com liberação de créditos a juros baixos, investimentos na indústria, retomada de programas habitacionais e, principalmente a criação de um programa sério de transferência de renda para garantir comida na mesa.

26 out 2021, 09:57 Tempo de leitura: 4 minutos, 20 segundos
Carlos Zaratini: Bolsonaro joga o povo brasileiro no desemprego e fome, enquanto os bancos aumentam os lucros em 100%
Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Bolsonaro joga povo brasileiro no cenário do desemprego e da fome
Por Carlos Zarattini*, exclusivo para o Viomundo

Nos últimos dois anos, é evidente o empobrecimento do povo brasileiro.

Com a pandemia da covid-19, a crise econômica se agudizou e o custo de vida disparou em proporções jamais registradas.

Esse panorama se agravou ainda mais diante da política recessiva do governo Bolsonaro.

O resultado é inflação alta, crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB), desvalorização do real frente ao dólar, o desaquecimento do mercado de trabalho, a disparada no preço dos combustíveis, do gás de cozinha e dos alimentos.

Buscamos diminuir os impactos no bolso do trabalhador ao apresentar o projeto de lei 1374/2021, da minha autoria, que cria desconto na compra de botijão de gás de cozinha para famílias de baixa renda.

O auxílio gás vai conceder desconto de, no mínimo, 50% na compra do produto, terá vigência de cinco anos, será pago a cada bimestre, e vai beneficiar as famílias inscritas no CadÚnico.

Como a proposta sofreu mudanças no Senado o texto deve ser votado na Câmara dos Deputados. Mas isso é um paliativo e não resolve a situação dramática do trabalhador.

O Brasil já registra 14,4 milhões de desempregados, 7,5 milhões de subempregados, 30 milhões vivendo com apenas um salário mínimo, inflação alta e fome.

Segundo pesquisa feita em dezembro de 2020 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 116,8 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar ou passando fome no Brasil. Se repetem cenas de brasileiros cozinhando com lenha e brigando por ossos.

Mesmo diante desse cenário, o governo segue paralisado e a tendência é que as coisas piorem caso Bolsonaro siga governando. Em pouco mais de 1.000 dias de gestão, Bolsonaro não apresentou nenhuma política pública de geração de empregos.

O auxílio emergencial acaba em outubro e a proposta do governo para resolver essa lacuna é o Auxílio Brasil que pode deixar 21 milhões de pessoas sem assistência social.

Isso porque hoje o auxílio emergencial hoje beneficia 38 milhões e o Auxílio Brasil, uma substituição ao Bolsa Família, vai contemplar apenas 17 milhões de pessoas.

Vale lembrar ainda que esse programa surge justamente no momento em que Bolsonaro enfrenta forte queda em sua popularidade. A proposta do governo já ficou conhecida como bolsa reeleição.

A recessão econômica com disparada da inflação e crescimento insignificante do PIB contribui de forma ativa para impedir melhorias no mercado de trabalho. E não se vislumbra um cenário diferente no próximo ano.

Para 2022, a expectativa dos especialistas é negativa. O Itaú Unibanco, por exemplo, prevê crescimento do PIB de 0,5% e crescimento nas taxas de desemprego.

Além disso, a inflação que segue no patamar de 10% vai impedir ganho real e impulsionar a queda do poder aquisitivo das famílias.

O fato é que para todo lado que se olha na economia os índices são péssimos. A pandemia acabou atingindo em cheio as pequenas empresas e milhares acabaram fechando.

O governo Bolsonaro foi incapaz de implementar políticas de apoio ou facilitar o acesso a créditos com taxas de juros relevantes e o resultado são quase 600 mil empresas fechadas. O que vai dificultar ainda mais a recuperação dos empregos.

Os poucos suspiros dados pelo mercado de trabalho revelam que o retorno será lento e em condições péssimas.

Boa parte dos que conseguiram um emprego nos últimos meses estão sendo submetidos a piores condições de trabalho e com menos direitos. E agora já se nota a condição de subocupados para vários grupos de escolaridade, inclusive com nível universitário.

O caos econômico brasileiro só não atinge os rentistas, os bancos e os bilionários do mercado financeiro. Apoiado pelo governo e sua política econômica, eles nunca ganharam tanto.

As grandes corporações financeiras lucraram e muito com o empobrecimento e endividamento da população.

Por exemplo, no segundo trimestre de 2020-2021, os bancos aumentaram os lucros em 100% e houve um crescimento exponencial no número de bilionários.

Um contrassenso: quanto mais pobre fica o povo mais ricos ficam esses setores que não geram empregos, não pagam impostos. Eles multiplicam suas fortunas apenas com juros e dividendos.

Apesar de Bolsonaro, é preciso reagir e lutar por medidas de apoio e incentivo às pequenas empresas com liberação de créditos a juros baixos, investimentos na indústria, retomada de programas habitacionais e, principalmente a criação de um programa sério de transferência de renda para garantir comida na mesa.

E isso só será possível se o Congresso assumir o seu papel e atuar para melhorar a vida do povo e não sucumbir aos devaneios do Executivo.

*Carlos Zarattini é economista pela USP e deputado federal pelo PT de São Paulo.

Matéria publicada originalmente no site Viomundo e replicada neste canal.