A América Latina pode conviver com governos de diferentes orientações políticas, desde que respeite o princípio da autodeterminação dos povos nas relações diplomáticas entre os países, defendeu o ex-presidente Lula, na quinta-feira (16), em entrevista à Rádio RNE, da Espanha. Na conversa com o apresentador Íñigo Alfonso, Lula também apontou que o respeito à soberania tem de valer para nações poderosas, como os Estados Unidos. “Quero ter relações importantes com a China, com a Índia, com a Rússia, com a África do Sul, com a América Latina, com o Oriente Médio”, enfatizou.
Para o ex-presidente, os Estados Unidos são importantes para o Brasil e vice-versa. “O Brasil não tem disputas. Já fui presidente e tive uma relação extraordinária tanto com Bush quanto com Obama, tanto com Tony Blair quanto com Felipe González, com Zapatero ou com Aznar. Tive uma relação extraordinária com a Angela Merkel, com o Sarkozy, com todos os países do mundo”, apontou Lula.
“O que não podemos aceitar é que o Brasil esteja subordinado aos Estados Unidos”, afirmou. “Que tenhamos uma relação produtiva, intelectual, comercial, política, científica e tecnológica ou cultural, mas que o Brasil seja efetivamente soberano nas suas relações com todos países”, defendeu o líder petista.
Liderança do Brasil
O ex-presidente também foi enfático sobre a guerra comercial travada entre os americanos e os chineses. “Não aceitamos ser o presunto do sanduíche na disputa entre Estados Unidos e China. Não queremos uma nova Guerra Fria”, pediu Lula.
“O que queremos são políticas de desenvolvimento para que os países ricos possam ajudar os pobres a se desenvolverem. É por isso que mantemos uma política saudável e de respeito com os Estados Unidos e com o mundo inteiro”, justificou.
Lula lembrou do papel que o Brasil já desempenhou na integração latino-americana e que é possível fortalecer os laços na Região e com os países da África. “Quando fui presidente, viajei por todos os países da América Latina e Caribe. Visitei 34 países africanos e sempre achei que o Brasil precisava cumprir o papel de mostrar que é preciso ter paz, muita democracia, muita solidariedade, muita transparência, atrelada a decisões coletivas”, observou.
Cuba e Venezuela
Lula voltou a defender a importância da autodeterminação dos povos como instrumento de exercício da soberania e da independência das nações. “Eu tinha relação com a Venezuela e tinha uma relação extraordinária com Cuba. Não discuto o regime político de cada país, porque cada país decide o que é importante para eles, não é o presidente de outro país que deve dizer como eles têm de resolver os problemas”, disse Lula.
“O povo venezuelano tem maturidade, tem competência para decidir o destino da Venezuela, não sã os governos europeus que devem colocar alguém para ser presidente, que não venceu eleições, como Guaidó. Isso não ajuda a Venezuela”, avaliou.
Lula argumentou sobre como os processos eleitorais são fundamentais para garantir a democracia nos países. “Democracia é assim, na democracia, você ganha ou perde. Quando você perde, você chora, quando você vence, você governa. Na Venezuela, é importante que a oposição participe das eleições”, aconselhou.
Ele voltou a criticar o bloqueio imposto pelos Estados Unidos aos cubanos. “Sou muito admirador da revolução cubana, acho que o povo cubano é extraordinário. Sou contra qualquer bloqueio, seja americano, seja espanhol, seja brasileiro, em relação a Cuba. O povo cubano cubano deve decidir seu destino sem interferências de nenhum presidente de qualquer país do mundo”, advertiu.
“Por isso”, defendeu Lula, “o Brasil deve manter relações com todos os governantes, buscando sempre observar um comportamento democrático, preocupando-se com a qualidade de vida e as condições de trabalho das pessoas, mas não querendo se envolver nas decisões políticas. cada povo é soberano para tomar suas próprias decisões”.