Bolsonaro avança para liberar mercado de armas aos EUA

Nesta semana, Bolsonaro anunciou a decisão de comprar armas para as polícias no exterior. A proposta atual avança da defesa ideológica do uso de armas para o terreno do negócio de armas. Na brecha aberta pela proposta, empresas que produzem nos EUA miram no mercado brasileiro. Uma espécie de “american first” versão Bolsonaro

28 ago 2020, 19:13 Tempo de leitura: 3 minutos, 44 segundos
Bolsonaro avança para liberar mercado de armas aos EUA

Nesta semana, Bolsonaro anunciou a decisão de comprar armas para as polícias no exterior. A proposta atual avança da defesa ideológica do uso de armas para o terreno do negócio de armas. Na brecha aberta pela proposta, empresas que produzem nos EUA miram no mercado brasileiro. Uma espécie de “american first” versão Bolsonaro

O “piloto” da fabricação de cloroquina parece estar fazendo escola dentro do governo Bolsonaro. Nesta semana, Bolsonaro anunciou a decisão de comprar armas para as polícias no exterior. Para executar a “missão”, o Ministério da Justiça pretende instalar um representação provisória nos Estados Unidos. De acordo com o ministério, a comissão conta com representantes da pasta, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Abrir e incentivar o mercado de armas é uma das principais plataformas de Bolsonaro, ponto central de sua campanha. Na reunião ministerial de 22 de abril, ele defendeu armar o povo contra as determinações sanitárias dos governadores e prefeitos. Também em abril, por ordem de Bolsonaro, o Exército revogou as portarias 40, 60 e 61 da regra de controle de armas. As portarias dificultavam o acesso do crime organizado à munição e ao armamento extraviado das forças de segurança.

O objetivo da proposta é comprar armas para os órgãos policiais, mas o ministro André Mendonça já disse que pretende atender estados interessados por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública. A comissão instalada no exterior é uma forma de driblar as regras atuais para a compra de armas. No caso de licitação, se existir similar nacional, ele leva vantagem. Em Washington, isso não ocorreria. Uma espécie de “american first” versão Bolsonaro.

Histórica relação com armas

A iniciativa de Bolsonaro não é novidade, considerando seu passado e as teses defendidas ao longo da carreira política. Os filhos também têm histórico de relação com armas, clubes de tiros e personalidades internacionais ligadas ao setor. Antes da campanha eleitoral, Carlos e Eduardo Bolsonaro eram assíduos frequentadores do clube de tiro “ponto 38”, em Santa Catarina. Em visita aos EUA (vídeo acima), Eduardo Bolsonaro defende o “direito de formar milícias”.

Entre as relações cultivadas pelo clã Bolsonaro, em especial por Eduardo Bolsonaro, o frustrado ex-futuro embaixador nos EUA, é o senador norte-americano Marco Rubio, do estado da Florida. Ligado à Associação Nacional do Rifle, um dos financiadores de suas campanhas eleitorais, Rubio é ligado ao temas das armas, em todas as suas dimensões. A abertura do mercado brasileiro de armas populares ou de pequeno porte é uma das demandas dos fabricantes norte-americanos, ou instalados em seu território.

Ideologia e negócios

A proposta atual avança da defesa ideológica do uso de armas para o terreno do negócios das armas. Para se ter uma ideia do mercado, em apenas cinco meses, foram adquiridas 6.343.931 unidades de armas e balas. De janeiro a maio deste ano, o volume de armas vendidas no país cresceu 98% em comparação com o mesmo período no ano passado, e 90% em relação a 2018.

No último dia 18, uma portaria do Exército normatizou novas diretrizes a processos de compras do setor pelo país. A principal alteração foi dar a estrangeiros uma moratória de dois anos para vender ao Brasil sem precisar passar por todos os testes internos, obrigatórios para os produtores nacionais. Na esteira da mudança, a CBC/Taurus anunciou que irá priorizar expansão nos EUA, onde já produz. O alvo é o mercado brasileiro, azeitado pela medida anunciada por Bolsonaro.

A política perseguida por Bolsonaro aponta para transformar o Brasil em um Estado miliciano. “Essa perda de controle claramente beneficia a qualquer tipo de crime organizado, de tráfico ou milícias, que com menos rastreamento e menos marcação, tem mais chances de se abastecerem com armas e munição e menos chances de verem seus crimes esclarecidos”, criticou Bruno Langeani, gerente de projetos da ONG Instituto Sou da Paz, em  entrevista ao ‘ El País’.


Matéria publicada originalmente no site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.