Ministro Alexandre de Moraes garante à PF o acesso total aos dados e investigação da rede social sobre os perfis de assessores do presidente e dos filhos. Milícias digitais bolsonaristas atuaram na promoção de conteúdo anti-democrático e de ataques às autoridades. PT quer inclusão do caso nas ações que correm no TSE e pedem a cassação da chapa vitoriosa nas eleições presidenciais de 2018
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a Polícia Federal a acessar todas as informações relativas à investigação conduzida pelo Facebook sobre os perfis sociais ligados ao PSL e a gabinetes da família Bolsonaro, incluindo do assessor especial Tércio Arnaud Tomaz, que trabalha diretamente com o presidente da República no Palácio do Planalto.
O PT também quer a inclusão das informações coletadas pelo Facebook nas ações movidas pela legenda junto ao Tribunal Superior Eleitoral para a cassação da chapa que elegeu Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão, em 2018, por abuso do poder econômico e disparos em massa de conteúdo impulsionado por empresários, inclusive com ataques à candidatura de Fernando Haddad.
Moraes atendeu ao pedido da Polícia Federal, que toca os dois inquéritos relativos às investigações sobre fake news e a promoção de atos antidemocráticos e inconstitucionais, sob a supervisão direta do próprio ministro na Suprema Corte. Os dados e os relatórios reunidos pelo Facebook poderão ser utilizados nos dois casos, que correm sob sigilo no STF. O ministro deu cinco dias para a rede social passar os dados.
A PF pediu o acesso às informações do Facebook após a exclusão de 88 contas inautênticas, inclusive a do assessor especial da Presidência da República. Tércio foi um envolvidos responsáveis por perfis pessoais e páginas suspensas pelo Facebook e pelo Instagram no Brasil por infração das regras de conduta nas redes sociais. Ele era um dos responsáveis diretos por ataques contra o PT e outros opositores de Bolsonaro.
Acesso direto ao presidente
Tércio trabalha a menos de 100 metros do gabinete do presidente da República, no 3º andar do Palácio do Planalto e, antes, atuou como conselheiro do vereador Carlos Bolsonaro, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Ele é apontado como líder do chamado Gabinete do Ódio, estrutura do Palácio do Planalto usada para mensagens de difamação, sob a supervisão direta de Carlos, o filho 02 do presidente. As contas atacaram o STF e o Congresso Nacional.
A PF tem pressa na colheita das provas contidas no relatório do Facebook porque teme que o conteúdo compartilhado nas redes sociais por Tércio e outros bolsonaristas seja adulterado ou apagado, assim como os próprios perfis dos envolvidos na promoção e distribuição de mentiras e ataques. Levantamento do Laboratório Forense Digital, do Atlantic Council, em parceria com o Facebook apontou a ligação direta de Tércio com o esquema de contas falsas nas redes sociais.
“Os dados mostram uma rede conectada a Bolsonaro e aliados dele, usando funcionários do governo e de deputados, dedicada a manipular informação e criar narrativas, com ataques a opositores”, explica a técnica Luiza Bandeira, pesquisadora do Digital Forensic Research Lab, do Atlantic Council, e uma das autoras do levantamento do Facebook.
Levantamento minucioso
Ela descobriu que a conta no Instagram @bolsonaronewsss, que é anônima, foi registrada por Tércio, segundo a equipe forense, que teve acesso aos dados do Facebook na investigação aberta a partir da demanda da própria plataforma. A conta tinha 492 mil seguidores e mais de 11 mil posts antes de ser derrubada. Outra página no Facebook chamada Bolsonaro News compartilhava o mesmo conteúdo.
Além de Tércio Tomaz, cinco outros assessores de legisladores bolsonaristas, entre eles um funcionário do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), foram identificados como conectados à operação de desinformação no Facebook e no Instagram.
O Facebook removeu a rede com contas ligadas a integrantes do gabinete de Bolsonaro, filhos e aliados. Parte delas promovia propagação de ódio e ataques políticos. Todas as contas, segundo a gigante do Vale do Silício, atuaram para manipular o uso da plataforma antes e durante o mandato de Bolsonaro —incluindo a criação de pessoas fictícias que se passavam por repórteres.
Da Redação
Matéria publicada originalmente no site Partido dos Trabalhadores e replicada neste canal.